quarta-feira, 20 de outubro de 2010


POLÍTICA RELIGIOSA
& RELIGIOSIDADE POLÍTICA


Não se pode negar o fato de que nas religiões, quase que de um modo geral, se desenvolvem posturas políticas de controle, domínio e até mesmo manipulação de grupos de pessoas que sigam uma determinada confissão religiosa. Nesse sentido, podemos encontrar dentro da religião posturas governamentais benignas ou malignas, justas ou injustas.

Também não podemos deixar de constatar que na política pública, de um modo ou de outro, existem posturas religiosas, muitas delas hipócritas e poucas sinceras. Nesse caso, o que geralmente se observa é que há expressões de religiosidade neste setor que contribuem no sentido de resgatar valores morais e a dignidade humana. Por outro lado, há também neste segmento, de maneira acentuada, manifestações de religiosidade que visam somente ludibriar e enganar os eleitores ou aqueles que vivem debaixo de algum tipo de governo civil.

Com certeza não é a propaganda política, por mais bem requintada que seja a produção por trás dela, que define o caráter de um candidato do ponto de vista ético ou religioso. Como bem sabemos, a propaganda é um meio de convencer e de empolgar as pessoas a desejarem um determinado produto ou objeto que elas ainda não conheçam pessoalmente. Tal situação, muitas vezes, faz uma pessoa comprar gato por lebre. Por isso, é preciso ser sóbrio e vigilante assim como foi Jesus, seja com relação aos que governam ou com quem pretende governar. Não se deve esquecer que o Bom Pastor chamou o governante Herodes Antipas de “raposa”, pois Ele bem sabia que o tetrarca usava a religião para se manter no poder.

Finalmente, é bom lembrar que todo aquele que explora e banaliza Deus e o que é sagrado com fins meramente eleitorais, não terá qualquer dificuldade em explorar e banalizar seres humanos em seu governo.

Uéslei Fatareli, rev.
Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

DESINTERESSE CUSTA CARO

Eleger representantes para cargos públicos nem sempre foi um processo amplo e participativo em nosso país. Basta lembrarmos os modelos políticos associados à aristocracia e à oligarquia que foram estabelecidos no Brasil logo depois de seu descobrimento.

O tempo passou e a lei e o processo eleitoral sofreram mudanças significativas. Por exemplo: o Código Eleitoral de 1932 estendeu a cidadania eleitoral às mulheres; a Constituição de 1934 estabeleceu a idade mínima obrigatória de 18 anos para o exercício do voto; a Emenda Constitucional nº 25/85 devolveu ao analfabeto o direito de votar em caráter facultativo; a Constituição de 1988 estabeleceu o alistamento eleitoral e o voto como obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativos para os maiores de 70 anos e para os jovens entre 16 e 18 anos.

Mas, se melhoras são estabelecidas na ordenação normativa referente ao direito de votar, o mesmo não se deu, por parte de uma grande parcela de brasileiros, no que diz respeito a ser politizado e exigente consigo mesmo nas urnas. Monteiro Lobato já observava: “sendo a política em sua legítima acepção a arte de governar os povos, não se concebe que os cidadãos assim se desinteressassem do que tão de perto lhes afeta a felicidade e o bem-estar.”

Caríssimos leitores, em nosso modo de ver, é esse desinteresse que ainda tem permitido que muitas pessoas desprovidas de vocação política, caráter ilibado e competência administrativa altruísta ocupem cargos públicos. Quando isso acontece a nação é roubada, os direitos fundamentais como saúde, educação e moradia são banalizados e a economia gera uma riqueza que não dá a todos a condição de viver dignamente.

Finalmente, um povo que trata a política e o voto com desinteresse promove imensos prejuízos para si mesmo e despreza o direito que tem de mudar e mudar para melhor.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

CONSCIÊNCIA LIMPA

No dia 4 de junho de 2010 foi sancionada pelo Presidente da República a Lei Complementar nº135. Conforme podemos observar em sua redação, esta Lei altera a Lei Complementar nº64, de 18 de maio de 1990, norma que estabelece com base no § 9º do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade.

Sem dúvida alguma, ainda que a supracitada Lei esteja sendo alvo de discussões, não podemos negar o fato de que a mesma é mais uma prova incontestável de que vale a pena nos mobilizar no sentido de exercer nossa cidadania, também, no campo jurídico. Nesse sentido, é digno de destaque meritório o empenho do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) que coletou 2 milhões de assinaturas com o fim de viabilizar o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Vida Pregressa dos Candidatos.

Por outro lado, mesmo tendo conhecimento de que alguns registros de candidatura já estejam sendo negados em razão da Lei Ficha Limpa (135/10), não se pode imaginar, em razão disso, que a força da lei seja suficiente para resolver tudo que envolve um período eleitoral, seja com relação àqueles que se candidatam a cargos públicos ou àqueles que escolhem e votam em seus candidatos, pois, em tal período, existem muitas coisas que fogem ao nosso campo de visibilidade. Referimo-nos, especialmente, ao âmbito da consciência, uma questão de foro íntimo, que se materializa nas urnas para o bem ou para o mal.

Concluindo, ainda que saudemos com apreço e entusiasmo a chegada da Lei Ficha Limpa, é preciso lembrar que ela mesma nos sinaliza que muitos brasileiros, ao longo de muitas gerações e de muitos pleitos, não foram capazes de exercer uma vida pública marcada pela pureza e pela integridade. Por isso, ter a ficha limpa é necessário sim, mas, consciência limpa é essencial para que a nação não destrua a si mesma.

Uéslei Fatareli, rev. mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

ATÉ QUANDO?

A pergunta acima geralmente aparece no livro mais lido da Bíblia no mundo, o Livro dos Salmos. Este livro poético que na língua hebraica recebe o nome de “Louvores” tem em seu conteúdo orações que expressam confiança em Deus, bem como manifestações de louvor e gratidão ao Soberano Criador do Universo. Possivelmente, um dos motivos que levam o livro a ser o mais lido é que nos identificamos com aquilo que as pessoas nele descrevem em sua relação com Deus e com a própria vida.

Existem salmos que são chamados “salmos de lamento” e é comum ocorrer neles a pergunta “até quando...?”. O lamento, é bom que se diga, não é uma murmuração, mas uma queixa que é apresentada a Deus, com a certeza de que Ele fará justiça. Um dos Salmos de lamento encontrados na Bíblia é o Salmo 13 e ele começa assim: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?”

Meditando e aprendendo com os salmos de lamento, observamos que a oração é uma relação de profunda intimidade com Deus, uma relação de amizade reverente na qual reportamos tudo a Ele sem qualquer dificuldade em declarar o que estamos sentindo, pensando ou vivenciando. E quando lançamos nossa súplica e lamento perante Deus confiando em Sua graça e crendo que Ele atenta para nós, ilumina nossos olhos, não nos deixa dormir o sono da morte e nem sermos vencidos pelos nossos adversários, nossa oração tem seu desfecho em tom de alegria e não de tristeza, pois o salmista diz no final: “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.” (Sl 13.6)

Finalmente, louvemos ao Senhor, não porque “quem canta seus males espanta”, mas porque Ele faz justiça e sustenta seus filhos e filhas em todas as circunstâncias.

Uéslei Fatareli, rev., ms.

sábado, 10 de julho de 2010


MODAS QUE NÃO MUDAM O MODO DE VIVER

A expressão “o mundo da moda” é conhecida da maioria das pessoas, tanto das que tem acesso aos meios de comunicação como daquelas que se aproximam das vitrines, sejam elas do tipo que forem. São muitos os fatores que ditam a moda ou um tipo de moda, talvez o principal deles seja a vaidade pessoal ou, quiçá, coletiva.

A moda, entretanto, não é algo que se limita ao campo estético, ela também pode ser reconhecida dentro de um setor econômico ou sócio-religioso. Nesse sentido, podemos dizer que assim como existem padrões de estética que num primeiro instante parecem incríveis, mas, depois, são facilmente substituídos, há também modelos econômicos e sócio-religiosos que estão sujeitos às mesmas situações.

Num primeiro momento, que denominamos de momento da novidade ou do inaudito, nossa tendência é ficarmos extasiados ou até mesmo anestesiados com aquilo que se nos apresenta. A força da moda é tanta que muitos de nós nem mesmo avaliamos tudo que ela pode representar ou trazer como desdobramento. Por isso, uma postura superficial diante dela, seja ela qual for, pode fazer com que sejamos esmagados pelo rolo compressor da massificação, um desastre que tem a capacidade de roubar qualidades preciosas do ser humano, tais como identidade, originalidade e individualidade.

Precisamos não ser enganados pela moda, especialmente aquela que insiste em nos fazer acreditar no que é falso. Vejamos a seguir alguns exemplos:

Há uma moda por aí que dita que a beleza está em ser magro, todavia isto é falso, pois beleza não se define exclusivamente por peso, conquanto o peso em excesso seja prejudicial à saúde, mas, beleza tem vínculo, principalmente, com saúde integral, aquela que atinge o nosso ser por inteiro e que faz com que vivamos em harmonia com nosso corpo e alma, não para que sejamos cultuados por isso, mas para que outros sejam beneficiados e encorajados a desejar e buscar o mesmo modo de viver.

Há uma outra moda que constantemente nos engana com facilidade. Referimo-nos àquela com o poder de nos fazer acreditar que, em nome do crédito ou do cartão de crédito, podemos comprar o que desejamos e também gastar o que nem mesmo possuímos. Neste caso, quando persistimos em acreditar que a moda do cartão ‘facilita nossa vida’, caímos na tentação de ‘vender nossa alma ao consumo’ e, depois de algum tempo, chegamos à conclusão que estamos presos a um sistema que não tem amigos, mas sim, interesses. Neste sistema, para quem não sabe, ‘misericórdia’ é uma palavra em extinção.

Há também a moda, dentre outras que poderiam ainda ser comentadas, que dita a denominação ou segmento religioso que ‘temos que seguir’. Geralmente, este tipo de modismo, vivido e proclamado por alguns, além do fato de reduzir Deus a um espaço ou sistema eclesiástico, na maioria das vezes mostra pouco ou quase nenhum interesse em transmitir ou testemunhar mudança no modo de viver. Esta moda se contenta em viver de aparências e muitos do que a seguem tem como alvo principal fazer parte ou uso do grupo religioso. Quando isso acontece, não há interesse em se fazer diferença na sociedade do ponto de vista ético e moral, ao contrário, estas questões são tratadas numa ótica relativista e circunstancial. Onde este tipo de moda se faz presente, Deus é tratado como um serviçal à disposição do homem 24 horas por dia, e o homem como ‘seu gerenciador’, ou seja, como aquele que ‘determina’ tanto o tempo que Ele ‘tem’ que agir como o que Ele ‘tem’ que fazer. O que essa moda não consegue esconder é que continuamos escravos de nossos arbítrios egoístas e narcisistas, um tipo de alvedrio que ao invés de garantir liberdade, acaba por nos escravizar ainda mais a um mundo sem misericórdia, paz e justiça.

Finalmente, não nos enganemos, modas que não mudam nosso modo de viver logo ficam fora de moda. Jesus Cristo, todavia, ontem e hoje é o mesmo, e o será para sempre (Hebreus 13.8), por meio d’Ele podemos ser nova criação com um novo modo de viver! Soli Deo gloria.


Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

quinta-feira, 24 de junho de 2010

PENDÃO DA ESPERANÇA



Assistimos em nosso país, por ocasião da Copa do Mundo, um verdadeiro desfile de bandeiras brasileiras. Elas estão nos carros, nas casas, nas mãos das crianças e em muitos outros lugares. Suas cores belas e vivas nos atraem e nos fazem pensar nas riquezas do Brasil. Além disso, mesmo trazendo em seus dizeres a influência do pensamento positivista do filósofo francês Augusto Comte, por meio deles somos desafiados a perseguir o que pode nos ajudar a construir uma nação cada vez menos dominada pela exploração ou por qualquer tipo de espírito de exclusão e corrupção que gerem desordem e retrocesso, se os termos da bandeira forem considerados por nós numa perspectiva ética e humana que tenham Jesus Cristo como fundamento.

É bom ver nossa bandeira presente em tantos espaços, e melhor ainda é ver o povo brasileiro dando a ela o destaque que merece. Por outro lado, lamentamos que a maior exposição de um de nossos símbolos nacionais esteja geralmente restrita a uma competição esportiva que acontece de quatro em quatro anos. É triste observar que em nossos pleitos eleitorais, momento que tem repercussão e desdobramentos imensos na vida da nação, sua presença seja mínima e, ainda, ter que constatar que são poucas as instituições, educacionais ou não, com interesse de considerá-la com proeminência, respeito, simpatia e seriedade.

Possivelmente, poucos brasileiros se lembrem da letra do Hino à Bandeira escrito por Olavo Bilac. Não reproduziremos agora a letra do hino na íntegra, mas destacaremos partes de seu precioso conteúdo. Seu primeiro verso registra: “Salve, lindo pendão da esperança, Salve, símbolo augusto da paz!”. O segundo anuncia: “A verdura sem par destas matas, e o esplendor do Cruzeiro do Sul.” O terceiro diz: “compreendemos o nosso dever”. O quarto expressa: “Nos momentos de festa ou de dor, paira sempre a sagrada bandeira, pavilhão de justiça e do amor!”.

Como se pode ver, a bandeira não é um objeto qualquer, mas um símbolo que nos indica que a esperança precisa ser nosso estandarte contra tudo e contra todos que insistem em nos catequizar com a cartilha do desespero, que a preservação das florestas mantém vivo o país e o planeta, que não há glória sem sacrifício, pois cruzeiro nos aponta para a cruz, que o dever de zelar pela nação é de todos e que a presença da justiça e do amor nos dá condições de desfrutar de uma alegria autêntica e, ao mesmo tempo, nos capacita a enfrentar e a superar nossas crises.

Finalmente, trazendo à lembrança os ensinamentos de Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, ergamos a bandeira brasileira tendo no coração o Deus que nos regenera para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, esperança que nos permite não viver em vão, esperança que vence a morte e que nos impede de nos rendermos à morte ou a qualquer tipo de pensamento e comportamento mortal estando nós ainda vivos. Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

quarta-feira, 2 de junho de 2010

FALSOS PROFETAS




Se uma pessoa ler a Bíblia com atenção, observará que um dos seus temas é acerca dos falsos profetas. Pode-se perceber a seriedade do assunto pelas várias ocasiões em que ele é mencionado e pela forma como é tratado.

No Antigo Testamento, Jeremias é um dos livros que mais nos alerta quanto aos falsos profetas. Nesta obra, especialmente no capítulo 23, podemos aprender que os falsos profetas falam da parte dos falsos deuses, fazem errar o povo, cometem adultérios, andam com falsidade, fortalecem as mãos dos malfeitores para que não se convertam cada um de sua maldade, fazem com que a impiedade aumente na terra, anunciam vãs esperanças, torcem a Palavra do Deus vivo, não participam do conselho de Deus, suas mensagens se baseiam em sonhos mentirosos e não têm proveito algum e se apresentam como profetas de Deus mesmo não sendo por Ele enviados.

No Novo Testamento, os servos de Cristo, o historiador Lucas e os apóstolos Paulo, Pedro e João, nos alertam também com relação aos falsos profetas. Seus escritos nos revelam que já naquela época não eram poucos os que enganavam em nome de Deus. Pedro, em sua segunda carta, destaca que os tais surgem no meio do povo de Deus, fazem comércio dele, são movidos por avareza, usam palavras ilusórias e se empenham para que os fiéis não somente venham a desprezar o Soberano Senhor, mas, também, a seguir suas práticas libertinas de tal maneira que o caminho da verdade seja desacreditado.

Concluindo, para quem imagina que nossa reflexão fosse mais útil numa igreja, alerto que o poder de enganar por meio de palavras e discursos ocorre, também, nos meios de comunicação de massa, nos palanques, nas tribunas etc. Nesse sentido, convém ficar de prontidão, pois há certos tipos de “lobos” que se apresentam com oratória requintada e sedutora.

Soli Deo gloria
Uéslei Fatareli, rev.ms.

VAMOS ESCALAR QUEM?


Sem dúvida alguma, nosso desejo é que a equipe de futebol que entrará em campo para representar e defender o Brasil na Copa do Mundo vença o torneio, não por sorte e, muito menos, por qualquer tipo de superstição, mas por jogar com raça, arte e técnica primorosas. Sabemos, entretanto, que os jogos trazem consigo situações imprevisíveis. Quem já não viu lances inusitados e despretensiosos mudarem o placar de uma competição e o destino de um time? Não obstante, um grupo bem escalado, bem preparado e bem dirigido terá maiores possibilidades de superar seus adversários.

Nosso intuito, entretanto, nesta breve reflexão, não se presta exclusivamente a tratar daquela que é uma das paixões do brasileiro, ou seja, o futebol, mas, aproveitar a ocasião e lembrar a todos que, mais do que vencer um campeonato mundial, a nação brasileira necessita sair vitoriosa nas urnas, uma “copa” que não podemos perder. Sendo assim, para que possamos juntos conquistar a vitória, urge que escalemos com sobriedade e prudência nossos representantes, pois o que está em jogo nas urnas é bem diferente daquilo que envolve um certame esportivo. A vitória no esporte nos faz festejar por alguns dias. Por outro lado, uma escolha correta numa eleição nos permite desfrutar de uma condição melhor de vida. Nesse sentido, entendemos que o voto de cada eleitor tem mais desdobramentos na vida da nação do que as suas preferências por um elenco de jogadores.

Finalmente, a responsabilidade dos eleitores de escalar presidente, governador e deputados que os representem e os defendam com excelência é uma tarefa bem mais difícil do que aquela que foi dada ao Dunga, pois este tem um grande número de bons jogadores a sua disposição, aqueles, entretanto, têm pouquíssimos candidatos dignos de receber crédito e voto.

Uéslei Fatareli, rev.ms.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

USOS E ABUSOS

Um dos mandamentos que encontramos na Bíblia diz: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o Seu Nome em vão.” (Êxodo 20.7).

Caríssimos leitores, neste tempo que antecede as eleições no país, alguns candidatos, sabendo que muitos cidadãos brasileiros são pessoas acentuadamente religiosas, usam e abusam do Nome de Deus. Tal postura, na maioria das vezes, é meramente teatral, pois visa passar aos eleitores somente uma aparência de piedade.

Entretanto, tal “piedade” se expressa, quando muito, nos limites do discurso e nada mais. É uma piedade falsa, encenada e circunstancial. Por isso, convém ficarmos prevenidos, pois se tem diabo que se transforma em anjo de luz, também tem candidatos lobos que se vestem de ovelha com o fim de enganar grandes rebanhos de eleitores. E quando conseguem seu objetivo nefasto, pouco tempo depois, roubam o rebanho e o abandonam às piores pastagens.

Por isso, conforme Jesus ensina no Evangelho, precisamos ser, no meio de lobos, prudentes como as serpentes (Mateus 10.16) e suspeitar de quem usa e abusa do sagrado com o fim exclusivo de conquistar, gananciosamente, votos para si.

Ainda convém destacar, que quem usa e abusa do Nome Deus com fim meramente eleitoreiro, também usará e abusará, caso seja eleito, do seu cargo e daqueles que o elegeram, pois quem banaliza Deus, banaliza também aqueles que foram criados à Sua imagem e semelhança.

Finalmente, sejamos vigilantes, deixemos a ingenuidade de lado e conheçamos o histórico pessoal e partidário dos candidatos. Agindo assim, não votaremos em vão e não compactuaremos com quem usa o Nome de Deus em vão, pois sabemos, por meio da instrução do Decálogo, que aqueles que o vulgarizam não serão tidos por inocentes.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.

segunda-feira, 15 de março de 2010


TEMOR E TREMOR

Há situações na vida em que o temor não depende de tremor para existir. Há, também, ocasiões em que o tremor desperta temor. Há, ainda, aqueles que dizem vivenciar temor e tremor ao mesmo tempo. Num período em que tomamos conhecimento de terremotos no Haiti, Chile e China, não podemos nos esquivar das palavras “temor” e “tremor”.

Geralmente, associa-se “temor” a “medo” ou “terror”. Entretanto, “temor” não deve ser tratado somente nessa perspectiva. “Temor” também significa “respeito”, “reverência” e “piedade”. No que tange à palavra “tremor”, observa-se que a mesma pode também referir-se a “medo”. Mas, como é sabido da maioria, “tremor” traduz, especialmente, “tremor de terra”, “estar trêmulo”, “tremer” ou “estremecer”.

O temor não depende necessariamente de tremor, pois há muitas pessoas vítimas da síndrome do pânico morando em lugares aonde não há abalos sísmicos. Além disso, há também pessoas que, em razão de sua consciência moral ou religiosa, com ou sem terremotos, mantém uma postura de reverência notória.

Observa-se que “temor” surge depois de “tremor” quando uma pessoa se vê impotente diante de forças superiores a ela, forças que ela não tem possibilidade alguma de controlar por si mesma. Segundo a história das religiões é nesse contexto que o homem cria deuses para si. Possivelmente, tal “temor” seja “pai do politeísmo”.

Por sua vez, “tremor” pode despertar “temor” na medida em que uma experiência provoque em uma pessoa o exame de si mesma, exame esse que a faz assumir uma nova postura diante da vida e daquilo que ela considera sagrado. Tal experiência é magnífica quando gera um estilo de vida sóbrio e solidário e é desastrosa quando promove fanatismo e enclausuramento.

Finalmente, é possível vivenciar “temor” e “tremor” ao mesmo tempo. Tal testemunho pode ser encontrado na Bíblia. Segundo seus relatos, o Deus nela revelado é Pai, Juiz e Intercessor, alguém que prioriza acolhimento a banimento e, em razão do Seu amor, abençoa e disciplina seus filhos e filhas que diante d’Ele temem e tremem.


Uéslei Fatareli, rev.
Mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
"EM NOME DE DEUS"

O que desvia os ouvidos de ouvir a lei,
até a sua oração será abominável.
Pv 28:9

Tem gente que pensa que orar é “não fazer nada”. Para tais pessoas a oração não tem importância e é uma pura perda de tempo. Por mais estranho que possa soar aos nossos ouvidos, muitos que seguem esse raciocínio em nossos dias não são necessariamente ateus, mas religiosos à toa que se renderam uma espiritualidade meramente nominal e institucional. Nesse sentido, encontramos com certa facilidade muita gente que não têm qualquer dificuldade em afirmar seu assentimento intelectual com relação ao cristianismo, mas que, por outro lado, desconsidera e despreza o fato de Cristo ser, por meio da oração, o maior exemplo de uma relação viva com o Pai nosso que os Evangelhos narram.

Há também quem veja a oração somente como uma muleta ou como um remédio. Estas pessoas entendem que Deus existe para ser usado e consumido somente nas horas difíceis e não para ser amado em todo o tempo. Desta forma, a oração acaba sendo reduzida a um tratamento meramente utilitário no qual o que importa é receber benefícios com o fim exclusivo de esbanjamento individual e egocêntrico. Um comportamento assim aborta toda e qualquer perspectiva relacional com Deus e faz da oração um monólogo ao invés de um diálogo. Geralmente quem tem este tipo de relação com Deus se esquece que orar é aquietar-se em Sua presença e, humildemente, se prostrar em silêncio diante do Espírito que guiou Jesus no deserto, Espírito que nos guia a toda verdade.

Outros, entretanto, vêem a oração como um modo eficaz de se manter uma relação de profunda amizade com o Criador do Universo, relação que não transforma o Pai nosso, mas que transforma aquele que ora ao Pai nosso e com o Pai nosso. Quem vive assim acaba por participar de Suas obras no mundo e testemunha uma fé que jamais fecha os olhos para o mundo ao seu redor, mas trabalha para transformá-lo com uma vida transformada. Neste caso, ao contrário do que pensava Marx, é a comunhão com Deus, fundamentada em Sua Palavra libertadora e santificadora, que coopera no sentido de libertar o povo de seus ópios e de tudo que o entorpece.

Embora haja muitos tipos de enfoque que poderiam aqui ser mencionados, tanto no aspecto positivo como negativo acerca da maneira que a oração é vista ou tratada, mencionamos nesta parte derradeira de nosso breve artigo, uma oração que Deus, segundo o livro de Provérbios, abomina.

Para mencioná-la, destacamos algo ocorrido meses atrás em Brasília e que foi transmitido pelos meios de comunicação. Referimo-nos às lamentáveis cenas de pessoas ligadas ao campo político que oravam, ao mesmo tempo em que arquitetavam ações corruptas. Tal episódio nos aproxima das palavras de sabedoria quando elas dizem que alguns oram a Deus, mas não dão ouvidos à Sua Lei. Tal oração e conduta Deus abomina, pois transmite a idéia de que Ele é um ser indiferente à justiça, a moral e a ética, o que Ele não é.

Finalmente, sem qualquer pretensão de colocar ponto final ao assunto, até porque somos alunos da escola da oração e continuaremos a ser ao longo de toda a vida, aprendemos com os desdobramentos da oração abominável, que quem semeia corrupção é desmascarado e colhe condenação, principalmente quando semeia em Nome de Quem não se associa com a iniqüidade e nem admite que Seu Nome seja usado em vão. Ao Deus justo que quer que mantenhamos companhia com Ele por meio da oração, mas que também nos ensina que não atende a todo e qualquer tipo de oração a Ele dirigida, toda a honra e glória, hoje e sempre!
Uéslei Fatareli, rev.
BEM-AVENTURADOS
OS QUE CHORAM

De quando em quando, no campo da religião, surge algum fato associado a estátuas que verteram ou teriam vertido lágrimas. Como é de costume, o assunto desperta o interesse da mídia e, por conseguinte, da população que amplia o assunto sob os mais diversos ângulos e percepções.

Com certeza, algumas pessoas, não necessariamente céticas ou descrentes, rejeitariam acreditar em tal possibilidade e associariam o assunto a algum tipo de crendice popular ou, até mesmo, de fenomenologia arranjada. Outras, ao contrário, não colocariam dúvidas sob o suposto acontecimento e o tratariam como algo digno de reverência.

Deixando de lado os posicionamentos e as polarizações que emanam do episódio em si, surge para nós, a partir dele, uma dupla pergunta: Será que somos uma geração que desaprendeu a chorar e que ainda não entendeu o sentido da bem-aventurança que diz: “bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”?

Se examinarmos a nós mesmos e a geração atual com franqueza, veremos que o amor tem se esfriado de muitos, apesar do aquecimento global. E por que dizemos isso? Por constatarmos um número cada vez maior de pessoas dispostas a ocultar, negar e, até mesmo, a querer por fim em todo tipo sofrimento, imaginando ser possível viver neste mundo, marcado pelo imprevisível, sem incômodos. Evidentemente, não estamos aqui propondo, sob hipótese alguma, um modo de viver masoquista, mas, simplesmente, olhando para a vida sem máscaras ou fantasias.

Por fim, precisamos nos desvencilhar dos sentimentos ilusórios e lembrar sempre que todo aquele que rejeita o amor que tudo sofre, demonstra não estar disposto a chorar com ninguém e por ninguém, a não ser que tenha consigo o espírito das carpideiras. Se isso acontecer nos tornaremos uma geração petrificada, sem lágrimas, que se volta para as estátuas e imagens querendo ver nelas o que não vê mais em si mesma.

Uéslei Fatareli, rev.
Mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

E A DIGNIDADE AOS VIVOS?

Recentemente, ao prestar solidariedade a uma pessoa que tinha perdido seus familiares, em razão de deslizamento de terra ocorrido em Angra dos Reis, o governador do Rio disse que toda a dignidade seria dada aos mortos. Sem dúvida alguma, ter respeito para com o corpo de pessoas mortas é o mínimo que se espera dos que continuam vivos. Mas, e a dignidade aos vivos como fica, sabendo que a verba destinada ao programa de “prevenção e preparação de desastres” caiu 55% no orçamento da União deste ano?

Caríssimos, podemos constatar, na história antiga e nos dias atuais, que a morte de muitas pessoas já ocorreu e ainda ocorre por não se tratar os vivos com a dignidade e o respeito que deveriam e que devem ser tratados. Aliás, em nome da indiferença e do ter a qualquer custo, temos, ao longo do tempo, sacrificado o ser, temos banalizado o corpo e alma, e, em muitos casos, temos promovido sua própria destruição e desolação.

Mas, esse quadro com figuras e cores trágicas não precisa ser mantido por nós. Podemos com a graça de Deus aprender que a vida é mais do que o alimento e o corpo mais precioso do que as vestes. Podemos por amor a Deus e à vida por Ele concedida, cuidar melhor de nós mesmos e tratar melhor uns dos outros. Aliás, como já dizia o reverendo Martin Luther King Jr. “nós temos que aprender a viver como irmãos ou morreremos juntos como tolos.” Por isso, antes que a tolice faça parte de nossa lápide, amemos a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, se é que desejamos construir um mundo melhor.

Finalmente, ainda que não estejamos isentos de ter que enfrentar intempéries, é possível, por meio da fé em Cristo, aquela que não abdica a prática da justiça, o exercício da misericórdia, o trabalho consciente, prudente, responsável e inteligente, estabelecer condições melhores que nos auxiliem a preservar a vida e a dar graças pela vida. Soli Deo gloria.


Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
DIAS MELHORES EM TEMPOS DIFÍCEIS.

Enquanto vivemos neste mundo precisamos lembrar que, mesmo com todo o conhecimento adquirido até aqui pelo homem, mesmo com as medidas preventivas por ele traçadas para sua manutenção e preservação, mesmo com os adivinhadores de plantão que renascem das cinzas no final ou início de cada ano, não é possível dizer com precisão absoluta tudo que irá ocorrer em 2010, nos próximos dias, nas próximas horas ou segundos.

A titulo de exemplo podemos dizer que não é possível antecipar aonde um raio vai cair, não é possível saber o caminho exato que um furacão irá percorrer, não é possível acertar sem qualquer margem de erro a quantidade de água que uma tempestade trará consigo, não é possível afirmar com perfeição o horário que um terremoto vai acontecer ou que um apagão vai atingir várias cidades etc.

Por outro lado, é possível esperar que acidentes, fatais ou não, ocorram nas ruas e nas estradas quando motoristas dirigem embriagados, quando ciclistas e motociclistas não respeitam as leis de trânsito e quando pedestres são imprudentes. É possível afirmar, sem bola de cristal ou êxtase religioso, que uma produção desenfreada de veículos facilitará o aumento dos congestionamentos urbanos e que a impermeabilização desmedida do solo acarretará maiores inundações nas cidades. Não é preciso ter pós-graduação para saber que o lixo produzido em excesso e com destinação imprópria redundará em degradação ambiental para muitas gerações. Não é preciso nenhuma revelação mística para assegurar que gente arrogante, avarenta e egoísta produzirá toda sorte de mal na sociedade etc.

Finalmente, ao depararmo-nos com o imprevisível sejamos solidários e diante do previsível, sejamos responsáveis diante de Deus no cuidado com nossa própria vida e, ao mesmo tempo, tutores de nossos semelhantes e do planeta que nos hospeda. E isso é possível para quem viver em Cristo. Com Ele podemos, mesmo em tempos difíceis, promover dias melhores. Se pudesse lembraria o presidente dos Estados Unidos que somente com Cristo reinando em nós podemos fazer o que é certo (“with Christ we can do what is right”), sem Ele nossos esforços nascem mortos e servem apenas para expressar nossas vaidades.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie