quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PECADO & CAPITAL



Antes da inauguração de Brasília em 1960, meu pai, motorista profissional, transportou várias vezes, em razão da empresa que prestava serviços, gêneros alimentícios para os trabalhadores que, em sua maior parte, estavam ligados à construção civil. Tais pessoas, com grande esforço e labuta, enfrentaram não só as dificuldades próprias de uma região inóspita, como também a falta do aconchego familiar em razão da distância de seus lares. Sem trabalhadores com tal disposição, não seria possível dar forma concreta aos desenhos arquitetônicos de Oscar Neimeyer e Lúcio Costa. Aliás, em meu modo de ver, foi por meio desse movimento conjunto, ordenado e equilibrado de trabalhadores inteligentes, para alguns, fruto de uma criação que surgiu por acaso, para outros, fruto do Criador de tudo que é sagrado, que nasceu Brasília.
Recentemente, os meios de comunicação de massa transmitiram gravações que permitiram aproximarmo-nos da conduta de autoridades ligadas ao governo do Distrito Federal e de pessoas associadas às mesmas. Tais imagens, ainda que para o nosso excelentíssimo presidente da República “não falem por si mesmas”, expressam pelos menos duas coisas. A primeira é que a política brasileira ainda é comandada, em muitos setores, por uma mentalidade de compra e venda. Tal modus operandi se pauta por uma voracidade sanguessuga que vive dominada pela obsessão de ter sob seu controle permanente o poder político e econômico, almejando assim, por meio deles o enriquecimento próprio de maneira ilícita e, junto dele, o acúmulo de vantagens que garantam a posse definitiva de tudo que vêem pela frente, ainda que com tal alvedrio gastronômico morram pela boca. O segundo aspecto ligado às imagens supramencionadas é aquele que se refere a um tipo de postura comunicativa que usa as palavras, discursos, métodos, lacunas do direito, tribunas e até mesmo orações para defender uma prática enganadora que acaba por manifestar um modus faciendi semelhante ao pai da mentira que distorce a verdade, banaliza a ética e zomba dos bons costumes,

Caríssimos leitores, mesmo que o país e a capital brasileira sofram com tanta corrupção e falta de ética, ainda temos a oportunidade de mudar, não mudar do país, mas de sermos instrumentos para que mudanças ocorram no país. Para isso, precisamos ser mudados, transformados de dentro para fora, não por uma força solitária e centralizada em nós mesmos e nem por qualquer tipo de ideologia inventada pelo homem que pensa ser deus, mas a partir de uma relação viva e humilde com Jesus Cristo, o Deus que se fez gente e que assumiu a forma de servo. Somente por meio d’Ele e caminhando junto d’Ele com fé e obediência aos Seus ensinamentos aprenderemos a viver o amor que jamais acaba, o amor que tudo sofre, o amor que tudo crê, o amor que tudo suporta, o amor responsável, terno, firme, solidário, exigente consigo mesmo e compreensivo com todos mas que não nos obriga a sorrir para todos.

Finalmente, melhor do que vencer nos grandes torneios esportivos que se aproximam é obter vitória sobre nossos atuais adversários, e os piores são aqueles que se disfarçam de brasileiros, mas que na prática são antibrasileiros. Nesse sentido, se nos deixarmos guiar pelo modus vivendi de Jesus Cristo que, motivado pelo amor sacrificial, praticava a justiça, construía pontes ao invés de muros, moldava vidas sem manipulá-las, curava sem pedir nada em troca, confrontava e corrigia sem perder a ternura, aproximava-se de todos e permitia que todos d’Ele se aproximassem, reconhecia o pecado e o pecador mas não se conformava com o pecado e nem entrava em acordo com quem preferia o pecado ao arrependimento, seremos então mais do que vencedores. Por isso, enquanto há tempo, que o arrependimento e a conversão ao Senhor Jesus ocorram e sejam vistos em nossas vidas, pois se isso não acontecer o que restará das cidades serão ruínas que servirão de sepulcro para obras de arte feitas por trabalhadores em movimentos sagrados.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

O DEUS QUE SOFRE CONOSCO


Quem já não ouviu ou mesmo não fez a seguinte pergunta: “Se Deus existe, porque então ele não põe fim a tanta injustiça e a tanto sofrimento que há na terra e entre os seres que nela vivem?”. Se pararmos e pensarmos nessa pergunta, observaremos que a mesma tem sua razão de ser, proceda ela da boca de alguém que se diz ateu, deísta ou livre pensador. Essa indagação ocorre porque somos pessoas que querem encontrar razão na vida, queremos saber o sentido para o qual ela existe, queremos compreender o quê ou quem deu a ela origem, queremos entender a causa de uma dor, queremos decifrar o porquê do sofrimento pessoal ou alheio e muitas outras coisas. E, no que se refere à vida, incomoda-nos o fato de que a dor ou o sofrimento, de uma forma ou de outra, voluntária ou involuntariamente, nela esteja presente. E além do desconforto que a própria dor já causa por si mesma, incomoda-nos mais ainda o fato de não termos alguém que nos ajude a tratar dela e com ela. Também nos deixa bastante desconfortáveis a terrível expectativa de não poder amenizá-la ou superá-la.

Caríssimos leitores, tomando como base de análise as “imagens”, ou melhor, as “caricaturas” de Deus na Pessoa de Jesus de Nazaré que nos tem sido atualmente apresentadas, é possível observar que a pergunta, lançada no início de nossa breve reflexão, além se agigantar ainda mais, acaba por ecoar com maior intensidade nos ouvidos e na alma de quem sofre, pois em grande parte das pregações (nem sempre fiéis ao contexto bíblico geral ou particular; ou, em alguns casos, especulações acerca de “Deus”), focaliza-se Jesus numa única perspectiva; ou seja, àquela que o limita a alguém que vem ao mundo somente para por fim de forma definitiva à dor e ao sofrimento enquanto vivemos aqui, esquecendo-se que foi o próprio Jesus que disse: “Neste mundo experimentareis a aflição, mas tende confiança. Eu venci o mundo!” (Jo 16.33).

Desta forma, quando isso acontece, quando somos apresentados a um “Deus” que somente serve para solucionar (e rápido) o problema da dor no tempo em que aqui vivemos, acabamos sendo levados a conceber a ideia de um “deus anestésico”, que existe para nos impedir de experimentar qualquer tipo de sofrimento. Nesse sentido, a cruz de Cristo, de símbolo do amor sacrificial, torna-se mero objeto estético de um mundo que se rende às superstições, aos modismos e à magia.

Antes de continuar precisamos deixar claro que não estamos aqui fazendo qualquer tipo de apologia cega ou fatalista ao sofrimento e muito menos querendo que as pessoas tenham a visão de um “deus masoquista”. Todavia, queremos que todos saibam que, segundo as Escrituras Sagradas, o Deus Todo Poderoso não é somente alguém que possui o poder de criar os céus e a terra, como também não é alguém que vive exclusivamente para operar milagres. Ele é, também, alguém que compreende a nossa dor e que sofre conosco, pois foi à cruz em nosso lugar e é ele que diz a todos nós: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”(Lc 9.23).

Finalmente, se aprendermos de Jesus e com Jesus a partir da Palavra de Deus, manifestaremos, por obra do seu poder, um duplo tipo de reação diante do sofrimento; ou seja, aquele que faz com que enfrentemos a nossa dor não com murmuração, mas com a confiança de que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Rm 8.18), e que, também, nos dispõem e nos movem a sofrer com os que sofrem com compaixão. Por isso, a pergunta que precisamos fazer não é primordialmente a que já cogitamos na introdução do texto, mas é outra: “Se o Deus Todo Poderoso que a Bíblia revela sofre com e pelos que sofrem, qual a razão em não compreender que na escola da vida coroa de espinhos antecede a coroa de glória e que sangue, suor e lágrimas antecedem a vitória?”. E ainda: “Por que somos tardios em aprender que disciplina antecede o aperfeiçoamento, ‘que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança’ (Rm 5.3,4) ?”.


• Uéslei Fatareli é mestre em ciências da religião pela Universidade Mackenzie, compositor e pastor.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


APAGÃO TAMBÉM ESCLARECE


Em nosso modo de ver, o apagão ocorrido recentemente traz consigo alguns esclarecimentos, tais como:

• Obras humanas são incríveis, mas são limitadas e falíveis;
• Conseguimos muitas coisas ao longo da vida, mas não conseguimos viver sem luz;
• Na escuridão a vida continua para quem possui luz;
• Simples velas ainda são imprescindíveis no oceano tecnológico que vivemos;
• Não fomos criados para viver perdidos em trevas, mas em luz e sob a luz que norteia nosso caminho para o que é justo e bom;
• Um apagão pode nos fazer enxergar melhor o céu e a ter mais respeito pelas estrelas;
• A falta de energia não tem que obrigatoriamente roubar de nós todas as nossas energias;
• O que mais nos incomoda no apagão não é a constatação da ausência de luz, mas é não saber, por parte daqueles que imaginam controlá-la, a razão real de ela ter nos deixado e quando ela voltará;
• No meio de um apagão ainda é possível reascender atitudes humanas que, geralmente, ficam esquecidas nas mais iluminadas avenidas de nossas cidades;
• Se no apagão a quem chegue a dizer: “Deus queira que não haja mais apagão”, isso prova que um apagão pode nos aproximar mais de Deus que é fonte eterna de luz. Aliás, segundo a narrativa do Livro de Gênesis é o Criador dos céus e da terra que ordena: “Haja Luz” e é no Evangelho Segundo João que Jesus, o Senhor e Salvador Eterno, diz: “Eu Sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, pelo contrário terá a luz da vida.”(Jo 8.12). Desta forma, não importa a dimensão do apagão que estejamos inseridos, há uma luz que pode e que prevalece nas piores escuridões da vida;

Finalmente, mesmo que não desejemos um novo apagão tão cedo, não pensemos que estamos isentos de ter que enfrentá-lo numa outra ocasião. Por isso, não desprezemos a oportunidade que nos é dada diariamente de andar na Luz, Aquela que nos capacita a viver e a ser verdadeiramente livres, mesmo no meio de algum apagão não previsto ou de um mundo marcado por densas trevas.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

250 MILHÕES PARA COMBATER O CRIME


O Governo Federal com o intuito de combater a violência na cidade do Rio de Janeiro decidiu repassar 250 milhões para a Prefeitura Municipal que é responsável pela administração pública da capital fluminense.

Sem qualquer desmerecimento com a atitude governamental que, mesmo sendo tardia, sinaliza, numa primeira e rápida análise, uma preocupação em reagir em favor de melhorias no que diz respeito à segurança dos cariocas, ficamos a cogitar sobre o que aconteceria à cidade do Rio de Janeiro e a muitas outras cidades brasileiras, se essa mesma diligência e prontidão em investir estivessem sendo aplicadas no campo da educação.

Já houve quem dissesse que o problema da violência no Rio de Janeiro tem suas raízes na década de 1960, ocasião em que o problema da moradia, que não estava sendo tratado com a devida atenção e eficiência por parte do poder executivo, já pré-anunciava futuras desordens sociais.

Ainda que não se deva descartar que a falta do acesso à moradia urbana organizada com a necessária infra-estrutura social e o devido saneamento básico seja um fator que contribui no sentido de favorecer a proliferação da violência, entendemos também, sob uma outra perspectiva, que a falta de maior investimento e de melhor atendimento no que se refere à formação e ao desenvolvimento educacional, cultural, esportivo e profissional, especialmente das crianças e dos jovens, propicia desdobramentos que aceleram a propagação da delinqüência e da decadência moral e econômica nos mais variados núcleos da sociedade urbana.

Não temos dúvida de que a situação da segurança em todo o país merece atenção redobrada. Como é sabido da maioria de nós, tal fato se deve, em grande parte, pela precária situação encontrada nos mais variados setores ligados ao policiamento civil e militar e, também, pela constatação incontestável de haver atualmente uma enorme ausência de elementos humanos, eficientemente habilitados e dignamente assistidos e remunerados, que atuem na nobre e, ao mesmo tempo, difícil tarefa de manter a ordem social com perícia e destemor.

Não obstante, é preciso que tenhamos consciência de que ainda que os investimentos no setor da segurança sejam feitos, não teremos uma sociedade melhor enquanto não promovermos para todos os brasileiros meios educacionais eficazes que cooperem no sentido de dar a eles a condição de exercer carreiras profissionais bem sucedidas, nas quais, por obra da competência e eficiência comprovadamente demonstradas, sejam dignos de justos salários.

Finalmente, se realmente desejamos ser construtores da paz numa sociedade em guerra, precisamos lembrar que necessitamos muito mais do que 250 milhões para combater o crime, carecemos, antes de tudo, junto com a boa educação, perseverar no Caminho da Paz, precisamos conhecer a Verdade que faz de nós pacificadores, precisamos receber a Vida que nos enche o coração de paz, aquela que promove a vida e não a morte. Precisamos de Jesus. Não aquele que foi institucionalizado, não aquele que foi reduzido a um dogma ou a uma data, não aquele que foi trancado nos templos, não aquele que se tornou objeto de meras especulações, mas do Jesus Senhor e Salvador do Universo, Aquele que se fez gente, que recém-nascido foi colocado em manjedoura, que não fez acepção de pessoas, que ensinou, curou, pregou, morreu e ressuscitou e que disse: “Eu Sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida;” (Jo 14.6a). Somente quando o coração do Brasil e de cada brasileiro viver sob o comando deste Jesus, poderemos habitar em cidades maravilhosas, cheias de encantos mil.

Soli Deo gloria.
Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie

quarta-feira, 7 de outubro de 2009



SÍMBOLOS
& DIÁBOLOS

Inicialmente, convém ressaltar que símbolo é alguma coisa que representa algo ou alguém. Pode-se dizer também que ele nos aproxima de algo que traz consigo uma história em um determinado contexto cultural. Alguns símbolos podem até mesmo apontar para realidades supra-racionais, ou seja, realidades que ultrapassam nossa capacidade de análise investigativa. ‘Diábolos’, que aqui não associamos diretamente com o ‘yo yo’, um antigo jogo chinês, tem relação com ‘aquele ou aquilo que separa, espalha e confunde’.

Como já é do conhecimento de muitos, foi sancionada a lei que obriga, pelo menos uma vez durante a semana, a execução do Hino Nacional Brasileiro, um dos símbolos da nação, nas Escolas de Ensino Fundamental. Tal positivação legal trouxe a minha memória o tempo em que, no pátio da Escola Adalberto Nascimento, na cidade de Campinas, junto com as demais crianças da primeira à quarta série, cantavamos semanalmente o Hino Nacional e, ocasionalmente, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência.

Naquela época, embora desconhecêssemos o lado cinzento e cruel de tudo o que se passava dentro do regime militar, não cantávamos por obrigação de lei, mas como parte de um dever. Sem dúvida alguma, muitos teriam variadas razões para criticar tal prática na época em questão, todavia, naquele ambiente escolar, aquele exercício matinal era uma maneira de manter vivo um símbolo que nos identificava como povo brasileiro e, também, uma forma de expressão musical que nos proporcionava pensar que, num futuro breve, seríamos responsáveis pela construção, defesa, preservação e desenvolvimento da nação.

Lembro-me também que, logo depois, na quinta-série, ainda no período do ensino fundamental, tínhamos aula de canto. Essa disciplina em nossa grade curricular, além de descontrair a classe de forma saudável, nos iniciava de forma preliminar e lúdica no mundo da poesia. E, só depois de algum tempo, pude aprender que ela, a poesia, é a arma com poder extraordinário de desarmar o mais brutal dos regimes e o mais vil dos homens e dos sistemas. Talvez, isso nos ajude a compreender a razão de a Bíblia, recheada de poesia, música e simbologia, ser o livro mais vendido no mundo e o Livro dos Salmos, de gênero literário poético, o livro mais lido das Sagradas Escrituras em todo o planeta Terra.

Mas, retornando à lei sancionada, é preciso lembrar que mais do que obrigar crianças e adolescentes a cantarem o Hino Nacional, se faz necessário, antes de tudo, nos obrigar a dar a elas oportunidades iguais de educação da melhor qualidade, uma educação que as ajude a compreender melhor o Brasil, uma formação que as façam compreender criteriosamente as origens desse imenso país, suas disparidades, suas riquezas e misérias, seus erros e acertos, suas vitórias e derrotas, de tal maneira que elas não façam somente uma recapitulação da história, mas contribuam, juntamente conosco, no estabelecimento de uma nova e nobre história, aquela daqueles que resistem com determinação, juízo, força e coragem a tudo que tenta nos separar e espalhar uns dos outros por motivos maléficos e anti-humanos, aquela história que resgata o que nos aproxima pacificamente uns dos outros com o fim precípuo de promover a justiça e o bem.

Finalmente, que o uso de nossos símbolos nacionais não somente nos identifiquem ou nos acomodem ao que eles já representam, mas que, ao considerar os mesmos com o devido respeito e sobriedade, saibamos que eles têm e continuarão tendo sentido, se todos forem motivados pelo amor, o amor que perdura, o amor de Deus que jamais acaba. Sem esse amor, nada seremos. Com esse amor os símbolos têm sentido e os diábolos são desmascarados e vencidos.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie

terça-feira, 1 de setembro de 2009


CARTÃO VERMELHO

Levanta-te, Juiz da terra;
retribui aos orgulhosos o que merecem.
Salmos 94:2 (NVI)


O futebol no Brasil, tirando sua beleza artística e seus títulos gloriosos, já foi e ainda é considerado por algumas pessoas como um tipo de “ópio” do povo, um esporte que na terra de “Santa Cruz” tem favorecido, em certas ocasiões, mais um entorpecimento da nação do que despertado nela o resgate de sua sobriedade, aquela que jamais mede o desenvolvimento nacional a partir da conquista e do acúmulo de taças provenientes de vitória em campeonatos internacionais ou mundiais, mas que a estabelece, essencialmente, pela melhoria na qualidade de vida de seus cidadãos.

Por outro lado, ninguém em sã consciência pode deixar de reconhecer que o futebol, assim como os demais esportes, quando aplicados de forma adequada e sadia, acabam não somente por aprimorar seus praticantes do ponto de vista físico, como também facilitam a integração cultural e social dos mesmos. Nesse sentido, todos os segmentos esportivos precisam ser incentivados, praticados e mantidos em todas as classes sociais e nas mais variadas etapas da vida.

Mas, além do que foi dito, é também na prática do esporte que aprendemos que regras precisam ser estabelecidas e observadas. E mesmo que algum árbitro possa estar sujeito a cometer algum erro, ao tomar determinada decisão numa disputa, sua presença é necessária. Geralmente, quando regras são observadas e quando os árbitros se empenham por julgar com imparcialidade e em acordo com as normas do jogo, o esporte é praticado com ordem e respeito e seus resultados, na maioria das vezes, considerados justos.

Observou-se recentemente que um senador da República, ao fazer uso da palavra na tribuna do Senado Federal, se utilizou de um “cartão vermelho”, que no futebol é usado para expulsar um jogador da partida. Ele o fez com o intuito de manifestar que não podia mais ser mantida a presença do atual presidente da Casa, visto que as acusações e indícios de faltas cometidas pelo mesmo eram suficientes para determinar seu afastamento do exercício da presidência supramencionada.

Logo depois do acontecido, o assunto começou a ser alvo de comentários e de aplicações no próprio Congresso. Todavia, a utilização da simbologia do “cartão vermelho”, que no futebol é praticada na maioria das vezes de forma apropriada, acabou não sendo levada tão a sério entre os congressistas, pois estes fizeram abordagens do “cartão” numa perspectiva preponderantemente lúdica e não em termos éticos ou normativos sérios. Nesse sentido, pode-se pensar que, ainda que partidas de futebol não tenham como alvo principal mobilizar politicamente as pessoas de um determinado país, elas tem dado melhor exemplo na aplicação de regras previamente estabelecidas, o que cada vez fica mais raro nos segmentos políticos em geral.

Por outro lado, aquilo que um senador não reuniu condições de fazer por si mesmo ao exibir um “cartão vermelho” com o escopo de ver outro senador ser expulso do Senado, os cidadãos brasileiros podem fazê-lo. Ou seja, por meio do voto sóbrio, vigilante e sensato pode-se dar “o cartão vermelho” nas urnas, mantendo nas eleições o firme propósito de não eleger quem descumpre regras e fere a ética explicitamente e repetidamente com um ar de quem pouco liga para o que os outros pensem. Talvez, a coerência maior do esporte nos ajude a entender uma das razões pelas quais, no Brasil, os estádios e os jogos em geral ainda atraiam mais pessoas e a atenção das mesmas do que o fazem os plenários das Casas Legislativas.

Finalmente, ainda que seja necessário repudiar qualquer tipo de “’ópio” social ou cultural, seja ele revestido de roupagem política, religiosa, econômica ou de qualquer outra espécie de tecido, convém lembrar que aquele que se deixa ser entorpecido pela soberba, além de causar mal a si mesmo, transtorna muitas casas e a casa que governa deixa de receber aprovação e respeito.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

"NÃO FUMARÁS"


Estabelecemos o título acima com o propósito de refletir brevemente sobre a Lei n° 13.541, de 7 de maio de 2009, norma que entrou em vigor em todo o Estado de São Paulo a partir da zero hora do dia sete de agosto de 2009.

Em primeiro lugar, não podemos deixar de reconhecer que ainda existe esperança para o campo legislativo brasileiro, pois mesmo com tanta corrupção no setor, medidas prudentes e necessárias com relação à preservação da saúde no âmbito público e privado são nele tomadas.

Em segundo lugar, precisamos lembrar que a medida, ainda que cause repúdio por parte daqueles que dela discordam, beneficiará a formação de uma mentalidade individual e coletiva que tratará o tabagismo com o rigor que merece, pois o corpo humano precisa ingerir o que faz bem a ele e não o que promove a decadência de seus órgãos.

Em terceiro lugar, em razão da lei supra não se aplicar em determinados lugares conforme preceitua seu artigo sexto, compete a cada cidadão residente no Estado de São Paulo saber que a decisão de fumar ou não fumar continuará dependendo do alvedrio dele mesmo. Nesse sentido, convém lembrar a todos que diante de convites e propostas oferecidas pelo mercado do tabaco, aparentemente prazerosas e encantadoras, escondem-se lobos astutos e vorazes que não poupam a vida humana e nem as relações humanas saudáveis. Por isso, quanto maior nossa vigilância, menor será a chance de sermos enganados ou ludibriados por qualquer oferta troiana.

Finalmente, mesmo que uma regra normativa não consiga controlar de forma absoluta a vontade de uma pessoa, ela pode servir, em certas situações, pelo menos para instruir, frear e desestimular padrões de conduta e costumes que roubam de nós o direito à vida. Referimo-nos aqui, especialmente, à vida que respeita a vida, especialmente aquela que é encarnada pelo próprio ser humano, uma obra divina e sagrada, feita para ser imagem de Deus no mundo, uma imagem que manifesta a presença do Criador nele quando se rende a Jesus Cristo, a verdade libertadora que nos capacita a não viver mais acorrentados a qualquer tipo de anti-vida, mas que faz de nós membros de uma nova sociedade, aquela que tendo decidido se render de corpo e alma ao Autor da Vida, persevera numa nova lei, uma lei que a Carta de Tiago chama de lei perfeita, lei da liberdade (Tg 1.25).

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.ms.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

INIMIGOS INVISÍVEIS E VISÍVEIS




O Brasil e muitos outros países ao redor do mundo estão tendo que enfrentar e combater a gripe A (H1N1), um inimigo invisível que se torna visível à medida que vidas são por ela atingidas. Sabemos que no mundo, por muitos outros motivos, ocorrem mortes diariamente e o número delas não é pequeno. Quem já não tomou conhecimento do número assustador de óbitos de seres humanos em razão de desnutrição, água contaminada, doenças sexualmente transmissíveis, câncer provocado pelo consumo de cigarros ou ingestão de alimentos não recomendáveis etc.?

Por que, então, a gripe A acaba despertando maior interesse ou maior preocupação por parte das pessoas e dos segmentos ligados à saúde? Evidentemente, a resposta a tal questão é ampla e jamais teríamos a pretensão de querer respondê-la de forma inequívoca e definitiva. Entretanto, uma das conclusões que nos ocorre relaciona-se com o fato de que, em virtude do vírus da gripe A ainda estar sendo objeto de investigação e a vacina em estágio de produção, sentimo-nos menos protegidos e mais vulneráveis, mesmo tomando medidas higiênicas e alimentares preventivas e salutares. Não obstante, em nosso modo de ver, precisamos e podemos olhar para o quadro atual com uma tríplice visão. E qual seria ela?

Primeiramente, precisamos e podemos ter a visão que nos permite encarar o invisível com os olhos da fé. Não nos referimos aqui a fé na fé e muito menos a fé que se confunde com otimismo ou pensamento positivo, mas falamos da fé que crê no Deus invisível que se tornou visível em Jesus Cristo, a fé que se faz acompanhar de boas obras. Essa fé não trata o trabalho científico sério com descaso ou desrespeito, até porque a ciência muitas vezes se desenvolveu e ainda se desenvolve em muitas situações a partir de uma busca que, assim como a fé bíblica, vai além dos limites de nosso globo ocular. Talvez, isso nos ajude a compreender a razão de pessoas como Kepler, Galileu e muitos outros cientistas cristãos terem cooperado de forma tão expressiva para o franco desenvolvimento da investigação científica em seus estágios iniciais, pois para eles a fé e a ciência não só convidavam para ver o invisível, mas, também, despertavam para enfrentar e vencer inimigos invisíveis e visíveis.

Em segundo lugar, precisamos e podemos receber a visão do amor que se torna visível por meios de obras de justiça, compaixão e misericórdia. Pois, como já disse o doutor Isaías Raw, diretor-presidente da Fundação Butantan, ainda que o Brasil já tenha tomado providências para produzir a vacina, seus primeiros lotes, quando estiverem prontos para utilização, não poderão atender, num primeiro momento, toda a população, até porque os primeiros lotes do medicamento deverão ser reservados àqueles que atuam na área da saúde, depois àqueles que trabalham nos aeroportos, posteriormente aos idosos e às crianças e, por fim, às demais pessoas. Nesse caso, somente aonde houver a solidariedade, o respeito e a bondade que prezam e se empenham pelo cuidado para com o semelhante, seja ele quem for, a gripe A será vencida, primeiramente pela influência do A’mor’ e, posteriormente, pela medicação.

Em terceiro lugar, precisamos e podemos ser pessoas com a visão focalizada na esperança. Como já é sabido de muitos, a esperança pode nos fazer reagir contra aquilo e contra aqueles que querem nos dominar e roubar de nós o direito de viver. A esperança nos ajuda a manter não só a mente ocupada com pensamentos de vida e a favor da vida num mundo de mortes, mas também a crer numa vida após a morte neste mundo. Não é sem propósito que as Escrituras Sagradas tragam consigo muitas perguntas que precisam ser respondidas pelo homem, e uma das principais é feita por Jesus quando Ele diz: “Eu Sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá, eternamente. Crês isto?” (João 11.25-26). Desta forma, Jesus nos mostra o caminho que nos liberta de todo desespero e que nos reveste com uma armadura inexpugnável que nem mesmo os piores inimigos invisíveis e visíveis conseguem sobrepujar.

Finalmente, que a prática dessa tríplice visão provoque uma onda de influência que nos torne verdadeiros amigos de Deus e amigos verdadeiros uns dos outros, um tipo de gente que vive na dimensão da fé, do amor e da esperança em Cristo, uma santa e eficiente composição que nos habilita a vencer pandemônios e pandemias.

Soli Deo gloria.
Uéslei Fatareli, rev. ms.

sábado, 27 de junho de 2009

MUNDO DA IMAGEM VIRTUAL E IMAGEM DE DEUS NO MUNDO



Em razão do desenvolvimento tecnológico, nunca tivemos tanto acesso à imagem virtual como atualmente temos. Tal imagem, transmitida por monitores simples ou sofisticados, é exposta em lugares públicos ou privados, nas mais variadas ocasiões e dos mais diversos modos. Dependendo do lugar em que nos encontramos somos capturados por câmeras para ser imagem a ser observada e, até mesmo, julgada.

Uma imagem virtual pode ser comum a várias pessoas, ou seja, num mesmo período de tempo, mesmo vivendo em domicílios diferentes, um grupo pequeno ou grande de expectadores pode ter como objeto de visualização, sonora ou não, uma mesma imagem, seja ela benéfica ou maléfica.

Ao lado disso, em nosso modo de ver, nunca se explorou tão mal a imagem virtual, especialmente aquela que é transmitida pelos meios de comunicação de massa. E isso pode ser notado, principalmente, quando certos grupos empresariais, tendo como pretexto razões sociais, usam e abusam da comunicação visual com fins meramente mercadológicos e sensacionalistas. É muito comum nesses casos a notícia tornar-se um mero produto e o expectador um mero consumidor da mesma.

Desta forma, caso não sejamos constantemente criteriosos e cautelosos com a imagem exposta ou transmitida pelos meios de comunicação de massa e as interpretações que a acompanham, poderemos, direta ou indiretamente, facilitar e muito a formação de um comportamento, individual ou coletivo, desajuizado, desordenado e desastroso. Se deixarmos isso acontecer, poderemos ser conhecidos, por quem sobreviver no futuro, como a geração que mais possuiu recursos para ver, mas que, em contrapartida, foi a que menos enxergou.

Outro aspecto que pode vir como desdobramento deste mundo de má exploração da imagem é o que chamamos preliminarmente de entorpecimento virtual coletivo. Ou seja, aquilo que poderia ser um meio para uma tomada de reflexão prudente, sensata e imparcial termina sendo um mecanismo de manipulação que pode muitas vezes nos levar a um desajuste social ainda maior.

Mas, mesmo que a má exploração da imagem virtual continue acontecendo, não precisamos e não temos que ser seus expectadores cativos. Podemos com a graça de Deus reagir, tomando a firme decisão de não contaminar-se com ela e nem favorecer ou facilitar sua propagação. Para isso é necessário sair da posição de expectador passivo e assumir a forma de atento observador do mundo, não com fins meramente especulativos, mas como cidadãos dispostos a melhorá-lo.

Finalmente, antes que o uso desenfreado, irresponsável e leviano da imagem virtual cause nossa própria destruição, sejamos todos moldados à imagem de Jesus, Aquele que é a imagem do Deus invisível e a expressão exata do seu Ser. Por meio d’Ele e com Ele saímos da condição de expectadores do trágico e passamos a ser personagens reais de uma nova criação, a criação daqueles que foram feitos para ser conforme a Sua imagem e semelhança no mundo, criação daqueles que não vivem mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou ( 2 Co 5.15)

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.ms.

sábado, 6 de junho de 2009


TIANANMEN
A palavra chinesa que serve de título para nossa breve reflexão, transliterada evidentemente com caracteres de nosso alfabeto, significa “PAZ CELESTIAL” e se refere ao nome de uma praça que fica localizada na cidade de Pequim, na China. Em nossa língua portuguesa conhecemos a praça como Praça da PAZ CELESTIAL.

TIANANMEN é a maior praça urbana do mundo, com aproximadamente 405 mil metros quadrados de área. Entretanto, é uma praça que não possui árvores e nem assentos para aqueles que nela transitam. Foi nesta praça, em 1° de outubro de 1949, que Mao-TseTung proclamou a República Popular da China e foi também nela, poucos meses antes do regime popular chinês comemorar quarenta anos, que um jovem de paradeiro ainda desconhecido, sem armas nas mãos, enfrentou no dia cinco de junho de 1989 os tanques do exército de seu próprio país, bloqueando-os por alguns instantes com seu próprio corpo.

Não entrando aqui no mérito de tudo que envolveu os conflitos entre o governo chinês e os destemidos jovens estudantes que se fizeram acompanhar de sindicalistas daquele país, não podemos deixar de ressaltar que o nome da praça, PAZ CELESTIAL, nos aponta, numa primeira análise, mais para o céu do que para a terra.

Ficamos a pensar no que teria acontecido às mentes dos líderes de um regime político marcadamente materialista para que permitissem que sua maior praça continuasse sendo chamada de TIANANMEN. Será que tal postura representava somente um modo de não quebrar o vínculo com o passado ou será que os anseios do passado continuavam vivos no presente? Será que isso já não sinalizava que é impossível a qualquer sistema político garantir paz ao homem que vive na terra? Será que a permanência do nome de uma praça que foi construída inicialmente em 1420 não era uma maneira de mostrar que nossa caminhada na terra é essencialmente um convite para desfrutarmos da PAZ CELESTIAL nela? Será também que TIANANMEN não era uma forma de representar a ausência da PAZ, ou ainda, que podemos ser pacificadores e construtores da paz na terra, mesmo quando vivemos inseridos em regimes governamentais que alijam a Pessoa de DEUS, O PAI CELESTIAL, simplesmente por julgarem tal pensamento desprovido de lógica e de valor científico?

Caríssimos, trazemos à memória o ocorrido no dia cinco de junho de 1989 para lembrar com muito respeito o ato daquele nobre e corajoso estudante chinês, que também, de alguma forma, contribuiu para que o muro de Berlim naquele mesmo ano caísse. Tais acontecimentos, tanto pelos aspectos correlatos como pelos seus desdobramentos sociais, levaram alguns historiadores a afirmar que o ano de 1989 estabeleceu o fim de uma era e inaugurou uma nova. Há quem diga, com bons argumentos, mas em tom angustiante, que estamos hoje vivendo a era do vazio. Desta forma, em nosso modo de ver, é necessário refletirmos melhor sobre os acontecimentos ocorridos em Pequim e em Berlim, pois os mesmos nos ajudam a entender que somos seres humanos em busca de uma PAZ PERPÉTUA em todas as eras e em todas as dimensões da vida.

Finalmente, mesmo vivendo numa era que até pode ser chamada de era do vazio, continuamos trazendo dentro de nós mesmos o desejo de preencher todo vazio do corpo e da alma, todo vazio que nasce do fruto de relações descartáveis e insustentáveis e todo vazio existencial que vem como resultado de não se ter encontrado sentido na vida. Nesse sentido, precisamos muito mais do que uma Praça com o nome TIANANMEN, pois somos seres humanos chamados à existência para desfrutar de PAZ CELESTIAL na terra, a PAZ PRESENTE E PERMANENTE e não aquela que é ocasional e efêmera. Felizmente, a PAZ ETERNA pode ser encontrada, recebida, vivida e transmitida, não a partir de sistemas de governo político, mas por meio de JESUS CRISTO Aquele que governa com perfeição e a Quem a Bíblia chama majestosamente de PRÍNCIPE DA PAZ. Somente através d’Ele, praças sem verde, sem esperança, sem alegria e sem liberdade de diálogo voltam a ter árvores e bancos. Os bancos nos convidando para assentarmos e conversarmos pacífica e livremente uns com os outros e as árvores, abrigo dos pássaros, nos oferecendo acolhimento e refrigério em suas sombras generosas.

Soli Deo gloria.



Uéslei Fatareli, rev.ms.

JESUS E A RAPOSA
Primeiramente, precisamos esclarecer aos nossos caríssimos leitores que não se trata de uma fábula, mas de um depoimento. E que depoimento seria esse? Trata-se de um depoimento feito por Jesus com relação a um dos principais governantes de sua época. Referimo-nos aqui ao rei Herodes, a quem Jesus chamou de raposa (Lc 13.31-32).

Há quem pense que por Jesus ter dito nos Evangelhos “Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus” (Mt 22.21) Ele tenha com isso ensinado a termos uma postura passiva e indiferente com relação às autoridades, não submetendo as mesmas a qualquer tipo de avaliação justa, contínua e criteriosa. Todavia, se olharmos com atenção para a vida de Jesus, conforme é narrada nos Evangelhos, veremos que Ele respeitava sim as autoridades constituídas, mas, também, não era ingênuo com relação a elas, pois Ele bem sabia que por detrás de muitos aparatos oficiais e palacianos escondiam-se ‘raposas da pior espécie’.

Como sabemos, existem raposas que são fruto de uma ordem natural, mas há também um tipo de ‘raposa’ que é resultado de uma desordem da natureza. O primeiro grupo respeita sua espécie e alimenta-se de outras, somente para sua sobrevivência, o que faz com que não haja qualquer tipo de extinção. Por outro lado, o segundo grupo, além de não cuidar e nem de respeitar os de sua própria espécie, promove tanto a destruição dele mesmo, como também a extinção de outros grupos de seres vivos.

Herodes, o rei ao qual nos referimos no início dessa reflexão foi uma autoridade cruel, carregada de inveja, hipocrisia e com o medo doentio de perder sua posição política. Seu governo girava em torno de si mesmo, e, para manter-se no comando de um poder déspota, tudo ele fazia para conservar seus privilégios, até mesmo fingir interesse em prestar adoração ao recém-nascido Jesus (Mt 2), todavia, com objetivo homicida em relação ao Senhor e Salvador do mundo. Não alcançando êxito, deu ordem para que todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, fossem mortos (Mt 2.16-18).

Pensando no que pudemos refletir até aqui, o que seria manifesto da parte de Jesus com relação a cada autoridade que hoje ocupa algum cargo no poder executivo, legislativo ou judiciário? O que Ele afirmaria de cada autoridade ligada ao comércio, à indústria ou ao terceiro setor? O que Ele diria de cada autoridade religiosa de nossa época? Qual depoimento Jesus faria a nosso respeito?

Finalmente, precisamos ser criteriosos e vigilantes, não só com relação aquele tipo de ‘raposa’ que se reveste ou que é revestida de autoridade, mas, também conosco, visto que a maioria de nós exerce, mais cedo ou mais tarde na vida, algum tipo de domínio. Nesse sentido, precisamos ser exigentes e sóbrios com relação a nós mesmos no que tange a uma conduta que priorize a retidão e a irrepreensibilidade em Cristo. Somente assim, com a graça de Deus, teremos condições de não viver enganando quem quer que seja. Somente assim deixaremos de ser enganados por aquele tipo de ‘raposa’ que Jesus nos alertou a respeito, uma espécie que engana muitas pessoas, mas que não engana a todos em todo o tempo, pois há limite para tudo na vida, inclusive para tais ‘raposas’, pois nada há encoberto que não venha a ser revelado (Lc 12.2). Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.ms.
Mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

domingo, 10 de maio de 2009

SÓ TEMOS O DIREITO DE PRODUZIR O QUE FAZ BEM À SAÚDE!


A indústria de alimentos tem parte integrante e destacada não só na economia mundial, mas, principalmente, na mesa e no dia-a-dia de muitas pessoas que fazem uso de seus produtos. O próprio ritmo da vida moderna ou pós-moderna, nem sempre saudável ou recomendável, acaba favorecendo e incentivando homens e mulheres a se socorrerem naquilo que lhes é oferecido a partir do mercado alimentício legal ou ilegal, ou seja, o mercado industrial das grandes e pequenas empresas e o mercado informal não autorizado ou não regulamentado.

Felizmente, há produtos de boa qualidade que nos são oferecidos. Por outro lado, há também aqueles que jamais deveriam sequer chegar às prateleiras dos supermercados ou serem oferecidos a quem quer que seja, pois foram feitos em ambientes desprovidos de condições higiênicas e sanitárias saudáveis, alguns foram elaborados de forma criminosa, outros deixaram de ser, por negligência ou ineficiência de órgãos ligados à saúde, objeto de inspeção adequada e, por último, ainda existem aqueles produtos que, amparados por leis nem sempre honestas, chegam ao consumidor, desprovidos do rigor científico que preza pelo que faz bem à saúde da população.

Com relação a isso, verificou-se recentemente que grande parte do café atualmente vendido ao público brasileiro contém até 10% de pedaços de madeira e até 31% de impurezas. Também se constatou em várias marcas de refrigerantes e sucos vendidos no Brasil duas substâncias, o benzoato de sódio e ácido ascórbico (vitamina C). Tais substâncias, por exercer interação ou interatuar, podem formar o benzeno, um composto tóxico cancerígeno.

Evidentemente, não é nada fácil viver ou sobreviver em um país com um quadro social e político que despreza ou pouco se esforça em preservar a qualidade de vida de seus cidadãos. Nesse sentido, não podemos e não temos o direito, diante de realidades tão injustas e destrutivas, de cruzar nossos braços e cantar em tom nostálgico ‘Let it be’ (‘Deixa Estar’) ou em ritmo de samba ‘Deixa a vida me levar’, pois quem canta tais músicas numa postura de passividade social acaba por facilitar a manutenção de um sistema degradante que injeta nas pessoas contaminações das mais diversas. Caso tal situação não seja combatida, deixaremos de cantar que vivemos num berço esplêndido e passaremos a entoar gemidos num leito de enfermidades, com o seguinte diagnóstico sócio-político: República doente.

Desta forma, precisamos nesses tempos difíceis e de tanta intoxicação cuidar melhor de nós mesmos. Também necessitamos zelar melhor e em primeiro lugar dos de nossa própria casa e, ao mesmo tempo, nos lembrar que não somos seres que somente pensam e existem e muito menos aquele tipo de gente que diz: “Comamos e bebamos que amanhã morreremos”, mais sim pessoas responsáveis, individual e coletivamente falando, tanto pelo corpo e alma que nos são dados pelo Criador como também pelo planeta no qual estamos hospedados.

Finalmente, sejamos mais exigentes conosco e não nos esqueçamos que mudanças sociais com desdobramentos benéficos e salutares à saúde integral não dependem de atos heróicos isolados, mas de uma mobilização ampla de pessoas com consciência de sua realidade e que num esforço conjunto vencem o mal com o bem. Por isso e por muito mais que poderia ser dito, sejamos criteriosos com aquilo que estão nos vendendo para nossa ingestão e manifestemos nosso repúdio e rejeição ao que é prejudicial à saúde buscando novas e melhores alternativas.

Soli Deo gloria.
Uéslei Fatareli, rev. ms.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A VIDA É TRÁGICA OU FAZEMOS DELA UMA TRAGÉDIA?

Já não é de hoje que o ser humano busca explicar o sentido da vida. Se considerarmos os filósofos e suas obras, veremos o grande anseio da maioria deles em compreender a razão do viver. Mas, não são somente os filósofos com suas idéias e raciocínios que buscam uma explicação para a vida, já houve e ainda há muitas outras pessoas de diferentes segmentos da sociedade humana almejando explicá-la ou defini-la. O conhecido cineasta Woody Allen, por exemplo, reafirmou em entrevista recente que a vida é trágica. Como podemos ver, parafraseando um antigo ditado, “de médico e filósofo, todo mundo têm um pouco”

Caríssimos leitores, a vida, além de ser uma aventura de fé e trabalho, é um convite constante à reflexão e a observação. Suas facetas e desdobramentos nos colocam diante de situações que exigem de nós olhar para ela não como mero objeto especulativo, mas como um meio que pode nos aproximar de realidades até então desconhecidas e assim, através delas, mergulharmos num oceano de riquezas encantadoras e incalculáveis. Com isso e por isso, queremos dizer que não temos o direito de menosprezá-la, abortá-la, feri-la, sufocá-la, reduzi-la, destruí-la, corrompê-la ou banalizá-la. Temos, sim, o direito e o dever de cuidar bem dela e de vivê-la intensamente para a glória de Deus.

Talvez, por ter mencionado Deus em nosso raciocínio, você levante a questão: Mas onde está Deus se há tanta tragédia na vida? Caso essa pergunta tenha ocorrido, saiba que ela, por si mesma, nos coloca diante de duas situações: a primeira é que somos seres que perguntam por Deus e, se perguntamos por Ele, isso denota que, direta ou indiretamente, não conseguimos viver sem algum tipo de relação com Ele, ou ainda, que Ele é uma questão inerente ao ser humano, mesmo para aqueles que se dizem ateus, pois até esses, no interesse de combater sua existência, demandam longas horas tendo Ele como objeto de suas elucubrações; a segunda, em nosso modo de ver, é que ainda que reconheçamos que existam tragédias na história humana, não desejamos ser alvo delas e muito menos destinados a elas.

A Bíblia, que não esconde as tragédias, é uma biblioteca que nos apresenta a vida não como fruto do acaso e muito menos como um projeto fadado ao trágico. Ela nos coloca diante do fato que somos fruto do Criador que não mediu esforços para fazer de nós seres a Sua imagem e semelhança. Ao lado desse ensinamento, vemos também nas Escrituras Sagradas que a presença da tragédia não é fruto de um Deus distante, mas de seres que decidiram viver distantes de Deus e rebeldes a Ele. Ainda que alguns não creiam nisso, quem pode negar em sã consciência que o homem em seus desregramentos não tem facilitado e provocado o aumento e aceleramento das tragédias? Caso você tenha dúvidas, considere o estado atual em que se encontra a família, os animais, os rios, as aves, o ar que respiramos etc.

Finalmente, antes de questionar o Criador do Universo pelas tragédias ou definir a vida como uma experiência trágica, convém perguntar a nós mesmos como temos tratado a vida em sua relação com Deus, consigo mesma e uns com os outros. Entretanto, esse exame só terá validade se tomarmos como referência de vida uma Pessoa e essa Pessoa é Jesus Cristo, pois Ele, segundo as Escrituras Sagradas, é o Deus que se fez gente e que, ao habitar entre os homens, amou, sofreu, chorou, indignou-se, angustiou-se, mas, mesmo passando por tantas aflições, sua história dramática, única e extraordinariamente fascinante, nos faz compreender que a vida só é trágica para aqueles que a desperdiçam, ou seja, aqueles que não vêem nela a grande, misteriosa e inigualável oportunidade de, seguindo os passos de Jesus, superar os obstáculos com amor, fé e esperança. Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Planeta "habitável" à vista!!!

No ano de 2007, o Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França juntamente com pesquisadores do Observatório de Genebra e do Centro de Astronomia de Lisboa descobriram um planeta que, segundo eles, “possui ao mesmo tempo uma superfície sólida e líquida e uma temperatura próxima da encontrada da Terra”. Caso novos dados colhidos por satélites assegurem que o planeta em questão é habitável, muitos esforços e empreendimentos serão feitos para que o mesmo seja tanto alvo de uma futura visita do homem, como também objeto de exploração por parte deste sagaz visitante. E aí? O que será deste ‘novo’ planeta ou o que poderá vir a ser dele depois desta possível chegada do homem? Repetiríamos nele erros semelhantes àqueles cometidos no passado, quando, em nome do acúmulo de riquezas e do domínio de uma minoria, civilizações inteiras acabaram sendo dissipadas e pessoas livres vieram a se tornar escravas ou vítimas de holocaustos?
Para responder às perguntas acima é necessário que analisemos com honestidade a vida do homem na Terra até o presente momento. Nesse sentido, de uma forma bem resumida, podemos dizer que, conquanto já tenha havido, como fruto do empreendimento humano, momentos e situações que mereçam nossa admiração e enlevo, o homem, lamentavelmente, de um modo geral e ‘progressivo’, têm causado mais a destruição de si mesmo e do ambiente natural ao seu redor do que propriamente o seu desenvolvimento harmonioso, sustentável e saudável.
O pior disso tudo é que enquanto alguns demonstram não ter consciência do mal até aqui praticado, outros, por sua vez, mesmo tendo conhecimento do estado em que Terra se encontra, se mostram indiferentes com relação a ela, não vendo qualquer necessidade de arrependimento ou mudança no modo de pensar, viver e agir. Se esta situação perdurar, dentro de poucos séculos o planeta Terra já não poderá ser chamado de ‘planeta verde’ e nem de ‘planeta água’, mas de ‘planeta caos’.

Finalmente, vem a minha memória o ano de 1969, quando ainda criança assistia pela TV a chegada do homem à Lua. Lá os astronautas colocaram a bandeira de seu país. Depois da missão cumprida os tripulantes da Apolo 11 retornaram a Terra e foram recebidos como heróis. Passados os anos, vemos que o homem não conseguiu habitar na Lua por razões já conhecidas da maioria de nós. Talvez, seja por isso que ela continua linda e misteriosa para quem a admira. Será que ainda não aprendemos que quem não cuida bem de si mesmo, não está apto a cuidar de ninguém, e que quem não ama os de seu próprio habitat não serve para habitar em lugar algum? Não será melhor deixar em paz o planeta descoberto, pelo menos enquanto não aprendemos a arte de viver pacificamente e fraternalmente uns com os outros? Deus tenha misericórdia de nós e do planeta que foi avistado e que os raios de Gliese nos impeçam de chegar nele com o mesmo espírito dominador e usurpador que tanta destruição e hecatombes têm provocado na Terra, lugar ainda habitável, mas até quando?

Uéslei Fatareli, rev. mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie

quinta-feira, 16 de abril de 2009

PÃO, EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE SAUDÁVEIS

Caríssimos leitores, caso não sejam tomadas medidas governamentais céleres, justas e necessárias no âmbito federal, estadual e, principalmente, municipal, o turismo nacional poderá enfrentar, se é que já não está enfrentando, crescentes perdas e prejuízos. Há quem diga que o motivo principal dessa situação no setor turístico tenha conexão direta com a falta de segurança e de organização nos municípios brasileiros.

Não resta dúvida que foi dada aos governantes, por meio do voto, a condição de se tornarem agentes públicos, ou seja, pessoas com a autoridade e o dever de tomar decisões sóbrias, sábias, corretas e práticas com importantes graus de relevância na esfera pública, econômica, social, cultural, turística etc. Mas, ainda que os governantes possuam tal autoridade e dever, não se pode imaginar que um povo desfrutará de um governo bom e capaz sem que cada pessoa, no exercício de sua cidadania, aja e reaja com racionalidade, responsabilidade e, acima de tudo, altruísmo. Quanto à cidadania, é bom lembrar que a mesma tem relação com o ‘indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este’.

Caríssimos leitores, eleger representantes pelo voto direto custou ao povo brasileiro um preço alto, um preço que foi pago inclusive em porões de tortura. Não obstante, ainda há muitas outras conquistas a serem feitas por todos nós. Uma delas é a de sermos perseverantes e facilitadores no sentido de que toda a nação tenha acesso a pão, educação e meio ambiente saudáveis.

Finalmente, aprendemos com Jesus nos Evangelhos que gente faminta precisa ser alimentada (Jo 6.1-15), entretanto, aprendemos com Ele também que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4.4). Tais constatações nos permitem pensar que de nada adianta estar alimentado e continuar rejeitando a prática de ensinamentos que resgatam o verdadeiro sentido da vida e a preservação de tudo que a envolve. Por isso, que o Brasil seja conhecido, tanto por quem nos observa de longe como por aqueles que nos observam de perto, não somente pelo entretenimento que produz nas avenidas e nos campos de futebol, mas, principalmente, pelo pão na mesa de cada brasileiro, pela oportunidade de formação educacional com qualidade para todos e pela conscientização, comprometimento e ação de cada morador deste país na preservação do ecossistema que o acolhe, de tal maneira que nossa nação e nossos bosques tenham mais vida.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.ms
POBRE ESTADO RICO
Quem de nós, em meio à crise econômica que atravessamos, já não perguntou: “De onde vem tanto dinheiro do Estado para socorrer empresas financeiras e montadoras de veículos?” Com certeza o dinheiro não caiu do céu, mas ele é fruto, em sua maior parte, como já estamos cansados de saber, daquilo que o próprio Estado arrecada de seus cidadãos, por meio da cobrança de tributos. Nisso tudo, o que nos espanta não são as enormes quantias em dinheiro que estão sendo utilizadas pelos governos para socorrer setores que foram atingidos em cheio com a explosão da crise econômica mundial, mas em saber que vivemos num sistema que é especialista em cobrar e enriquecer, na maioria das vezes, a si mesmo, mas pobre, para não dizer miserável em muitos casos, na distribuição eqüitativa da renda recebida por aqueles que são seus próprios contribuintes.

Por isso, enquanto um Estado ou governo arrecadar precipuamente com o interesse maior de encher seus cofres, atender interesses partidários desconectados com a realidade social do povo, ou, o que é pior, tendo em vista satisfazer os caprichos pessoais, egoístas e narcisistas daqueles que os representam, os cidadãos, em sua maior parte, continuarão vivendo em estado de pobreza, a boa e competente educação continuará sendo privilégio de poucos, os trabalhadores continuarão sendo explorados sem ter quem os defenda com integridade e lisura, os idosos continuarão sendo desrespeitados e as crianças continuarão sendo vítimas de um sistema que dobrou seus joelhos à moeda e que, em razão disso, tornou-se incapaz de olhar para os pequeninos e os menos favorecidos, pois quem serve ‘mamom’¹ não pode servir a Deus e quem não serve a Deus busca seu próprio interesse e não o do outro.

Finalmente, que a crise atual sirva para nos fazer parar e refletir que a riqueza de um homem, ou de um Estado ou governo, não se resume na quantidade de bens que eles possuem para si mesmos, pois de nada adianta acumular riquezas se não aprendemos a ser ricos no sentido de oferecer com liberalidade, responsabilidade e justiça as condições e os meios para que todos tenham as mesmas possibilidades de viver dignamente. Caso não nos arrependamos e não nos deixemos ser corrigidos, poderemos até mesmo construir palácios, mas morreremos de fome dentro deles, poderemos até falar de liberdade e almejá-la, mas continuar edificando e mantendo estruturas escravocratas que roubam de nós a possibilidade de ser verdadeiramente livres. Rendamo-nos, pois, inteiramente e humildemente, ao senhorio de Jesus, Aquele que liberta os encarcerados e se coloca ao lado dos que têm fome e sede de justiça.
Soli Deo gloria.
Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

¹ ‘Mamom’: termo de origem aramaica com os seguintes significados: ‘riqueza’ com forte conotação negativa, ‘lucro’ de origem iníqua ‘personificado’ e oposto a Deus’

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

NÃO BASTA TER OUVIDOS

Certa vez, conforme registra o Evangelho Segundo Lucas, Jesus ouviu uma mulher, no meio de uma multidão, dizer: “Bem-aventurada aquela que te trouxe no seio e te amamentou!” (Lc 11.27). Logo em seguida, Jesus declara: “Bem-aventurados antes os que ouvem a Palavra de Deus e a observam” (Lc 11.28). De acordo com Jesus, para sermos pessoas bem-aventuradas, precisamos, antes de tudo, dar ouvidos à Sua Palavra e obedecê-la, pois, refletindo no ensino dos Evangelhos, de que adiantaria Maria contemplar o nascimento do Senhor e Salvador Jesus se ela não vivesse como serva d’Ele, ou seja, como alguém que atendesse prontamente Sua voz e comando? De que adiantaria a nós reconhecer a graça que foi derramada sobre aquela que achou graça diante de Deus, se não seguimos e exemplo de consagração total aos propósitos do Senhor testemunhado por ela?

Caríssimos leitores, o fato de termos nossa capacidade auditiva dentro dos padrões da normalidade, não significa necessariamente que sejamos pessoas dispostas a ouvir, apreender e aprender com o outro. Por isso, se ainda desejamos resgatar um dos valores essenciais ao desenvolvimento humano saudável e crescente, precisamos refletir mais e melhor sobre a arte de ouvir e ter atitudes que colaborem para que a mesma torne o quadro da nossa existência uma obra a ser admirada e contemplada pelas gerações atuais e futuras. Para isso, apresentamos, com a graça de Deus, algumas proposições preliminares que podem contribuir no aprimoramento da arte de ouvir. Elas são as seguintes:

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso estar disposto a ficar em silêncio quando o outro fala, pois quem não se cala não ouve e nem entra em diálogo com quem fala;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ser humilde e reconhecer que podemos e que temos algo a aprender com o outro;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ser alguém que tem respeito pelo outro, e o respeito por quem nos fala nos dá a condição de sermos respeitados quando viermos a falar ou a expressar nossa opinião;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ter tempo de qualidade com o outro, de tal maneira que possamos ouvi-lo com atenção e não somente com a presença;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ter coração, pois é somente assim que aprendemos a ver o outro como parte de nós e não como estorvo.

E, finalmente, para concluir a reflexão, não o assunto, citamos a seguinte ordem bíblica: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (Carta de Tiago capítulo 1 verso 19). Sendo assim, que não nos contentemos somente em possuir ouvidos, mas que busquemos antes de tudo, com a graça de Deus, aquele tipo de prontidão para ouvir que faz com que nossas palavras sejam bem temperadas e ditas no momento certo e na medida necessária. Tal atitude, além de melhorar nossos relacionamentos interpessoais, nos ajudará a não dar lugar a qualquer tipo de comportamento que incite a violência proveniente da ira desenfreada, injusta, sem sentido e absurda.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Cidades de Jesus

Em viagem que precisamos fazer recentemente, passamos por duas cidades que possuíam, logo na entrada, algo em comum, ou seja, em cada uma delas, em lugares de tráfego intenso, haviam sido escritas, numa em portal e na outra, em placa de praça pública, expressões que declaravam que tais cidades pertenciam a Jesus. Diante do acontecido, nossa reação inicial foi a de pensar quais seriam os motivos pelos quais tais municípios faziam questão de afirmar, em espaços públicos, declaração tão séria e com tantas implicações, se paramos para refletir com a devida atenção e seriedade na vida, ensino, ética e obra de Jesus a partir dos evangelistas do Novo Testamento.

Caro leitor, segundo os Evangelhos, Jesus nasceu numa cidade, viveu e proclamou a verdade em várias, foi expulso da que havia sido criado, foi convidado a se retirar de uma delas, fez fortes advertências àquelas que possuíam moradores incrédulos, chorou ao avistar a cidade de Jerusalém, pois a mesma não reconheceu a oportunidade que teve de ter sido visitada pelo Messias e foi crucificado nela. Todavia, não vemos Jesus declarar que pertencia a Ele alguma cidade ou jurisdição municipal, mas o vemos, sim, chamar, nas cidades, de forma imperativa, pessoas ao arrependimento e ao discipulado.

Convêm, antes de prosseguir, deixar claro a todos os nossos leitores que uma cidade pode ser e precisa ser de Jesus sim, entretanto, isso não se dá simplesmente por meio de uma declaração escrita em lugar público, mas isso ocorre em razão do testemunho público de cada cidadão que se rende por inteiro ao comando de Jesus. Somente quando Ele reina na vida dos moradores de uma cidade, quando Sua Palavra é única regra de fé e prática na vida deles e quando a presença e o fruto do Seu Espírito que é amor, alegria, paz, paciência longa, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio habitam neles (Gl 5.22-23), somente aí o testemunho e o governo de Jesus podem e poderão ser vistos e reconhecidos no contexto urbano. Esperamos sinceramente que esse seja o sentido por detrás das expressões que pudemos ver e ler com reverência. Caso contrário, as cidades continuarão vazias, e se a mente vazia, como alguns dizem, é oficina do diabo, quanto mais uma cidade vazia de gente comprometida com Jesus e a mensagem do Seu Evangelho.

Finalmente, a Bíblia ensina no Salmo 24 que ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam. Entretanto, o mesmo Salmo ensina que obterão do Senhor a bênção e a justiça do Deus da salvação somente a geração dos que buscam a face do Pai Justo e Santo, ou seja, aqueles que são limpos de mão e puros de coração, que não entregam sua alma a falsidade, nem juram dolosamente. Nesse sentido, podemos ver que a declaração introdutória do Salmo traz junto de si a atitude que Deus quer dos moradores da terra, ou seja, que eles sejam fiéis Àquele que é fiel. Somente assim, podemos ser em Cristo nova criação e membros de uma nova cidade e sociedade. Uma geração que, ao invés de bombas, lança abraço e acolhimento; ao invés de promover destruição de crianças, coopera para a preservação e o desenvolvimento saudável e integral das mesmas; ao invés de separar as pessoas, facilita a construção de pontes de aproximação entre os que viviam afastados pelos muros da inimizade. Sendo assim, que se multiplique em todas as cidades, cidadãos comprometidos com o Senhor Jesus, pois o fiel testemunho deles é superior a declarações escritas em portais e placas de praças públicas.

Soli Deo gloria.


Uéslei Fatareli, rev. ms