quarta-feira, 7 de outubro de 2009



SÍMBOLOS
& DIÁBOLOS

Inicialmente, convém ressaltar que símbolo é alguma coisa que representa algo ou alguém. Pode-se dizer também que ele nos aproxima de algo que traz consigo uma história em um determinado contexto cultural. Alguns símbolos podem até mesmo apontar para realidades supra-racionais, ou seja, realidades que ultrapassam nossa capacidade de análise investigativa. ‘Diábolos’, que aqui não associamos diretamente com o ‘yo yo’, um antigo jogo chinês, tem relação com ‘aquele ou aquilo que separa, espalha e confunde’.

Como já é do conhecimento de muitos, foi sancionada a lei que obriga, pelo menos uma vez durante a semana, a execução do Hino Nacional Brasileiro, um dos símbolos da nação, nas Escolas de Ensino Fundamental. Tal positivação legal trouxe a minha memória o tempo em que, no pátio da Escola Adalberto Nascimento, na cidade de Campinas, junto com as demais crianças da primeira à quarta série, cantavamos semanalmente o Hino Nacional e, ocasionalmente, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência.

Naquela época, embora desconhecêssemos o lado cinzento e cruel de tudo o que se passava dentro do regime militar, não cantávamos por obrigação de lei, mas como parte de um dever. Sem dúvida alguma, muitos teriam variadas razões para criticar tal prática na época em questão, todavia, naquele ambiente escolar, aquele exercício matinal era uma maneira de manter vivo um símbolo que nos identificava como povo brasileiro e, também, uma forma de expressão musical que nos proporcionava pensar que, num futuro breve, seríamos responsáveis pela construção, defesa, preservação e desenvolvimento da nação.

Lembro-me também que, logo depois, na quinta-série, ainda no período do ensino fundamental, tínhamos aula de canto. Essa disciplina em nossa grade curricular, além de descontrair a classe de forma saudável, nos iniciava de forma preliminar e lúdica no mundo da poesia. E, só depois de algum tempo, pude aprender que ela, a poesia, é a arma com poder extraordinário de desarmar o mais brutal dos regimes e o mais vil dos homens e dos sistemas. Talvez, isso nos ajude a compreender a razão de a Bíblia, recheada de poesia, música e simbologia, ser o livro mais vendido no mundo e o Livro dos Salmos, de gênero literário poético, o livro mais lido das Sagradas Escrituras em todo o planeta Terra.

Mas, retornando à lei sancionada, é preciso lembrar que mais do que obrigar crianças e adolescentes a cantarem o Hino Nacional, se faz necessário, antes de tudo, nos obrigar a dar a elas oportunidades iguais de educação da melhor qualidade, uma educação que as ajude a compreender melhor o Brasil, uma formação que as façam compreender criteriosamente as origens desse imenso país, suas disparidades, suas riquezas e misérias, seus erros e acertos, suas vitórias e derrotas, de tal maneira que elas não façam somente uma recapitulação da história, mas contribuam, juntamente conosco, no estabelecimento de uma nova e nobre história, aquela daqueles que resistem com determinação, juízo, força e coragem a tudo que tenta nos separar e espalhar uns dos outros por motivos maléficos e anti-humanos, aquela história que resgata o que nos aproxima pacificamente uns dos outros com o fim precípuo de promover a justiça e o bem.

Finalmente, que o uso de nossos símbolos nacionais não somente nos identifiquem ou nos acomodem ao que eles já representam, mas que, ao considerar os mesmos com o devido respeito e sobriedade, saibamos que eles têm e continuarão tendo sentido, se todos forem motivados pelo amor, o amor que perdura, o amor de Deus que jamais acaba. Sem esse amor, nada seremos. Com esse amor os símbolos têm sentido e os diábolos são desmascarados e vencidos.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev.
mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie