terça-feira, 1 de setembro de 2009


CARTÃO VERMELHO

Levanta-te, Juiz da terra;
retribui aos orgulhosos o que merecem.
Salmos 94:2 (NVI)


O futebol no Brasil, tirando sua beleza artística e seus títulos gloriosos, já foi e ainda é considerado por algumas pessoas como um tipo de “ópio” do povo, um esporte que na terra de “Santa Cruz” tem favorecido, em certas ocasiões, mais um entorpecimento da nação do que despertado nela o resgate de sua sobriedade, aquela que jamais mede o desenvolvimento nacional a partir da conquista e do acúmulo de taças provenientes de vitória em campeonatos internacionais ou mundiais, mas que a estabelece, essencialmente, pela melhoria na qualidade de vida de seus cidadãos.

Por outro lado, ninguém em sã consciência pode deixar de reconhecer que o futebol, assim como os demais esportes, quando aplicados de forma adequada e sadia, acabam não somente por aprimorar seus praticantes do ponto de vista físico, como também facilitam a integração cultural e social dos mesmos. Nesse sentido, todos os segmentos esportivos precisam ser incentivados, praticados e mantidos em todas as classes sociais e nas mais variadas etapas da vida.

Mas, além do que foi dito, é também na prática do esporte que aprendemos que regras precisam ser estabelecidas e observadas. E mesmo que algum árbitro possa estar sujeito a cometer algum erro, ao tomar determinada decisão numa disputa, sua presença é necessária. Geralmente, quando regras são observadas e quando os árbitros se empenham por julgar com imparcialidade e em acordo com as normas do jogo, o esporte é praticado com ordem e respeito e seus resultados, na maioria das vezes, considerados justos.

Observou-se recentemente que um senador da República, ao fazer uso da palavra na tribuna do Senado Federal, se utilizou de um “cartão vermelho”, que no futebol é usado para expulsar um jogador da partida. Ele o fez com o intuito de manifestar que não podia mais ser mantida a presença do atual presidente da Casa, visto que as acusações e indícios de faltas cometidas pelo mesmo eram suficientes para determinar seu afastamento do exercício da presidência supramencionada.

Logo depois do acontecido, o assunto começou a ser alvo de comentários e de aplicações no próprio Congresso. Todavia, a utilização da simbologia do “cartão vermelho”, que no futebol é praticada na maioria das vezes de forma apropriada, acabou não sendo levada tão a sério entre os congressistas, pois estes fizeram abordagens do “cartão” numa perspectiva preponderantemente lúdica e não em termos éticos ou normativos sérios. Nesse sentido, pode-se pensar que, ainda que partidas de futebol não tenham como alvo principal mobilizar politicamente as pessoas de um determinado país, elas tem dado melhor exemplo na aplicação de regras previamente estabelecidas, o que cada vez fica mais raro nos segmentos políticos em geral.

Por outro lado, aquilo que um senador não reuniu condições de fazer por si mesmo ao exibir um “cartão vermelho” com o escopo de ver outro senador ser expulso do Senado, os cidadãos brasileiros podem fazê-lo. Ou seja, por meio do voto sóbrio, vigilante e sensato pode-se dar “o cartão vermelho” nas urnas, mantendo nas eleições o firme propósito de não eleger quem descumpre regras e fere a ética explicitamente e repetidamente com um ar de quem pouco liga para o que os outros pensem. Talvez, a coerência maior do esporte nos ajude a entender uma das razões pelas quais, no Brasil, os estádios e os jogos em geral ainda atraiam mais pessoas e a atenção das mesmas do que o fazem os plenários das Casas Legislativas.

Finalmente, ainda que seja necessário repudiar qualquer tipo de “’ópio” social ou cultural, seja ele revestido de roupagem política, religiosa, econômica ou de qualquer outra espécie de tecido, convém lembrar que aquele que se deixa ser entorpecido pela soberba, além de causar mal a si mesmo, transtorna muitas casas e a casa que governa deixa de receber aprovação e respeito.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.