quarta-feira, 20 de outubro de 2010


POLÍTICA RELIGIOSA
& RELIGIOSIDADE POLÍTICA


Não se pode negar o fato de que nas religiões, quase que de um modo geral, se desenvolvem posturas políticas de controle, domínio e até mesmo manipulação de grupos de pessoas que sigam uma determinada confissão religiosa. Nesse sentido, podemos encontrar dentro da religião posturas governamentais benignas ou malignas, justas ou injustas.

Também não podemos deixar de constatar que na política pública, de um modo ou de outro, existem posturas religiosas, muitas delas hipócritas e poucas sinceras. Nesse caso, o que geralmente se observa é que há expressões de religiosidade neste setor que contribuem no sentido de resgatar valores morais e a dignidade humana. Por outro lado, há também neste segmento, de maneira acentuada, manifestações de religiosidade que visam somente ludibriar e enganar os eleitores ou aqueles que vivem debaixo de algum tipo de governo civil.

Com certeza não é a propaganda política, por mais bem requintada que seja a produção por trás dela, que define o caráter de um candidato do ponto de vista ético ou religioso. Como bem sabemos, a propaganda é um meio de convencer e de empolgar as pessoas a desejarem um determinado produto ou objeto que elas ainda não conheçam pessoalmente. Tal situação, muitas vezes, faz uma pessoa comprar gato por lebre. Por isso, é preciso ser sóbrio e vigilante assim como foi Jesus, seja com relação aos que governam ou com quem pretende governar. Não se deve esquecer que o Bom Pastor chamou o governante Herodes Antipas de “raposa”, pois Ele bem sabia que o tetrarca usava a religião para se manter no poder.

Finalmente, é bom lembrar que todo aquele que explora e banaliza Deus e o que é sagrado com fins meramente eleitorais, não terá qualquer dificuldade em explorar e banalizar seres humanos em seu governo.

Uéslei Fatareli, rev.
Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

DESINTERESSE CUSTA CARO

Eleger representantes para cargos públicos nem sempre foi um processo amplo e participativo em nosso país. Basta lembrarmos os modelos políticos associados à aristocracia e à oligarquia que foram estabelecidos no Brasil logo depois de seu descobrimento.

O tempo passou e a lei e o processo eleitoral sofreram mudanças significativas. Por exemplo: o Código Eleitoral de 1932 estendeu a cidadania eleitoral às mulheres; a Constituição de 1934 estabeleceu a idade mínima obrigatória de 18 anos para o exercício do voto; a Emenda Constitucional nº 25/85 devolveu ao analfabeto o direito de votar em caráter facultativo; a Constituição de 1988 estabeleceu o alistamento eleitoral e o voto como obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativos para os maiores de 70 anos e para os jovens entre 16 e 18 anos.

Mas, se melhoras são estabelecidas na ordenação normativa referente ao direito de votar, o mesmo não se deu, por parte de uma grande parcela de brasileiros, no que diz respeito a ser politizado e exigente consigo mesmo nas urnas. Monteiro Lobato já observava: “sendo a política em sua legítima acepção a arte de governar os povos, não se concebe que os cidadãos assim se desinteressassem do que tão de perto lhes afeta a felicidade e o bem-estar.”

Caríssimos leitores, em nosso modo de ver, é esse desinteresse que ainda tem permitido que muitas pessoas desprovidas de vocação política, caráter ilibado e competência administrativa altruísta ocupem cargos públicos. Quando isso acontece a nação é roubada, os direitos fundamentais como saúde, educação e moradia são banalizados e a economia gera uma riqueza que não dá a todos a condição de viver dignamente.

Finalmente, um povo que trata a política e o voto com desinteresse promove imensos prejuízos para si mesmo e despreza o direito que tem de mudar e mudar para melhor.

Uéslei Fatareli, rev. ms.

CONSCIÊNCIA LIMPA

No dia 4 de junho de 2010 foi sancionada pelo Presidente da República a Lei Complementar nº135. Conforme podemos observar em sua redação, esta Lei altera a Lei Complementar nº64, de 18 de maio de 1990, norma que estabelece com base no § 9º do art. 14 da Constituição Federal, casos de inelegibilidade.

Sem dúvida alguma, ainda que a supracitada Lei esteja sendo alvo de discussões, não podemos negar o fato de que a mesma é mais uma prova incontestável de que vale a pena nos mobilizar no sentido de exercer nossa cidadania, também, no campo jurídico. Nesse sentido, é digno de destaque meritório o empenho do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) que coletou 2 milhões de assinaturas com o fim de viabilizar o Projeto de Lei de Iniciativa Popular Vida Pregressa dos Candidatos.

Por outro lado, mesmo tendo conhecimento de que alguns registros de candidatura já estejam sendo negados em razão da Lei Ficha Limpa (135/10), não se pode imaginar, em razão disso, que a força da lei seja suficiente para resolver tudo que envolve um período eleitoral, seja com relação àqueles que se candidatam a cargos públicos ou àqueles que escolhem e votam em seus candidatos, pois, em tal período, existem muitas coisas que fogem ao nosso campo de visibilidade. Referimo-nos, especialmente, ao âmbito da consciência, uma questão de foro íntimo, que se materializa nas urnas para o bem ou para o mal.

Concluindo, ainda que saudemos com apreço e entusiasmo a chegada da Lei Ficha Limpa, é preciso lembrar que ela mesma nos sinaliza que muitos brasileiros, ao longo de muitas gerações e de muitos pleitos, não foram capazes de exercer uma vida pública marcada pela pureza e pela integridade. Por isso, ter a ficha limpa é necessário sim, mas, consciência limpa é essencial para que a nação não destrua a si mesma.

Uéslei Fatareli, rev. mestre em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

ATÉ QUANDO?

A pergunta acima geralmente aparece no livro mais lido da Bíblia no mundo, o Livro dos Salmos. Este livro poético que na língua hebraica recebe o nome de “Louvores” tem em seu conteúdo orações que expressam confiança em Deus, bem como manifestações de louvor e gratidão ao Soberano Criador do Universo. Possivelmente, um dos motivos que levam o livro a ser o mais lido é que nos identificamos com aquilo que as pessoas nele descrevem em sua relação com Deus e com a própria vida.

Existem salmos que são chamados “salmos de lamento” e é comum ocorrer neles a pergunta “até quando...?”. O lamento, é bom que se diga, não é uma murmuração, mas uma queixa que é apresentada a Deus, com a certeza de que Ele fará justiça. Um dos Salmos de lamento encontrados na Bíblia é o Salmo 13 e ele começa assim: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Até quando se erguerá contra mim o meu inimigo?”

Meditando e aprendendo com os salmos de lamento, observamos que a oração é uma relação de profunda intimidade com Deus, uma relação de amizade reverente na qual reportamos tudo a Ele sem qualquer dificuldade em declarar o que estamos sentindo, pensando ou vivenciando. E quando lançamos nossa súplica e lamento perante Deus confiando em Sua graça e crendo que Ele atenta para nós, ilumina nossos olhos, não nos deixa dormir o sono da morte e nem sermos vencidos pelos nossos adversários, nossa oração tem seu desfecho em tom de alegria e não de tristeza, pois o salmista diz no final: “Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem.” (Sl 13.6)

Finalmente, louvemos ao Senhor, não porque “quem canta seus males espanta”, mas porque Ele faz justiça e sustenta seus filhos e filhas em todas as circunstâncias.

Uéslei Fatareli, rev., ms.