quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

NÃO BASTA TER OUVIDOS

Certa vez, conforme registra o Evangelho Segundo Lucas, Jesus ouviu uma mulher, no meio de uma multidão, dizer: “Bem-aventurada aquela que te trouxe no seio e te amamentou!” (Lc 11.27). Logo em seguida, Jesus declara: “Bem-aventurados antes os que ouvem a Palavra de Deus e a observam” (Lc 11.28). De acordo com Jesus, para sermos pessoas bem-aventuradas, precisamos, antes de tudo, dar ouvidos à Sua Palavra e obedecê-la, pois, refletindo no ensino dos Evangelhos, de que adiantaria Maria contemplar o nascimento do Senhor e Salvador Jesus se ela não vivesse como serva d’Ele, ou seja, como alguém que atendesse prontamente Sua voz e comando? De que adiantaria a nós reconhecer a graça que foi derramada sobre aquela que achou graça diante de Deus, se não seguimos e exemplo de consagração total aos propósitos do Senhor testemunhado por ela?

Caríssimos leitores, o fato de termos nossa capacidade auditiva dentro dos padrões da normalidade, não significa necessariamente que sejamos pessoas dispostas a ouvir, apreender e aprender com o outro. Por isso, se ainda desejamos resgatar um dos valores essenciais ao desenvolvimento humano saudável e crescente, precisamos refletir mais e melhor sobre a arte de ouvir e ter atitudes que colaborem para que a mesma torne o quadro da nossa existência uma obra a ser admirada e contemplada pelas gerações atuais e futuras. Para isso, apresentamos, com a graça de Deus, algumas proposições preliminares que podem contribuir no aprimoramento da arte de ouvir. Elas são as seguintes:

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso estar disposto a ficar em silêncio quando o outro fala, pois quem não se cala não ouve e nem entra em diálogo com quem fala;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ser humilde e reconhecer que podemos e que temos algo a aprender com o outro;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ser alguém que tem respeito pelo outro, e o respeito por quem nos fala nos dá a condição de sermos respeitados quando viermos a falar ou a expressar nossa opinião;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ter tempo de qualidade com o outro, de tal maneira que possamos ouvi-lo com atenção e não somente com a presença;

* Para ouvir não basta ter ouvidos, é preciso ter coração, pois é somente assim que aprendemos a ver o outro como parte de nós e não como estorvo.

E, finalmente, para concluir a reflexão, não o assunto, citamos a seguinte ordem bíblica: “Todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” (Carta de Tiago capítulo 1 verso 19). Sendo assim, que não nos contentemos somente em possuir ouvidos, mas que busquemos antes de tudo, com a graça de Deus, aquele tipo de prontidão para ouvir que faz com que nossas palavras sejam bem temperadas e ditas no momento certo e na medida necessária. Tal atitude, além de melhorar nossos relacionamentos interpessoais, nos ajudará a não dar lugar a qualquer tipo de comportamento que incite a violência proveniente da ira desenfreada, injusta, sem sentido e absurda.

Soli Deo gloria.

Uéslei Fatareli, rev. ms.